Sunday, November 28, 2004

Automatismos

Um dia, num futuro distante, uns seres de um qualquer planeta perdido na galáxia, conseguiram chegar às estrelas.
Conseguiram elaborar métodos de transporte virtualmente instantâneos, que lhes permitem alcançar qualquer ponto do Universo.
O impacto deste conhecimento transformou profundamente a sociedade destes seres. Individualmente, transformaram-se numa organização de arqueólogos e exploradores dispersos, de planeta em planeta, de sistema em sistema, explorando e catalogando o que havia.
Um dia um destes seres, solitário, chega a um planeta azul a que outrora os seus habitantes entretanto desaparecidos chamaram de Terra.
Deambulou pelas ruínas de cidades, de instalações, fez levantamentos geológicos que lhe permitiram perspectivar as várias etapas de desenvolvimento e evolução destes estranhos seres que se auto-classificavam de humanos.
Observou espantado como tinham sobrevivido a inúmeros riscos e transformações ao longo de milénios.
Ainda mais espantado, analisou detalhadamente implantes industriais, edifícios e equipamentos ainda funcionais com auto-manutenção automatizada ainda em processamento.
Constatou que estes seres teriam entrado em declínio pela lassidão e luxúria permitidas pela completa cibernetização de todas as infra-estruturas. Estas, após milhares de anos de os criadores terem desaparecido, ainda laboravam.
Na catalogação intensiva do planeta, descobriu um canto com algo de insólito.
Uma cidade que teria dado pelo nome de "Lesboa", anteriormente "Lisboa" depois de "Olissipus", de uma zona chamada "Pert'gal", anteriormente "Portugal" depois de "Lusitânia" que pertencia à zona "Êurea", anteriormente "Europa" depois de "Império Romano".
O insólito dessa cidade, nos seus arredores, era uma infra-estrutura única, ímpar na catalogação efectuada até então.
Tinha elementos contraditória e aparentemente mistos da era pré-cibernética para a frente.
E continuava funcional.
Um espaço decorado por bandeiras vermelhas, onde se reuniam autómatos aleatórios das tarefas de manutenção das infra-estruturas. Sentavam-se alinhados e ordenados, fixando um púlpito onde se sentavam elementos dos seus pares.
O espanto deste viajante intensificou-se com a constatação de que era uma eleição.
De que havia comunicações nesta eleição que apontavam inimigos em todo o lado. Ainda.
Sobre o desaparecimento dos criadores e reajustes à nova situação, nada.
Este fenómeno deu entrada na Enciclopédia destes seres arqueólogos e viajantes, como sendo o mais imutável e perpétuo alguma vez encontrado até à data.
Tendo atravessado eras de transformações profundas, permaneceu sempre isolado, embora embebido, dos processos externos.
Este fenómeno que justificou uma reunião inédita in loco das cúpulas dirigentes destes seres do espaço, tinha uns estranhos símbolos de instrumentos da era agrícola e pré-industrial desta raça desaparecida.
Este fenómeno que permaneceu alheio a tudo, e permanecia inclusive alheio à presença destes seres que o observavam atónitos, tinha em determinada altura, substituído os seres vivos que o compunham por autómatos operacionais das infra-estruturas sem que se fizesse notar qualquer diferença.
Algo nunca antes documentado por estes viajantes que trataram de o descrever pormenorizadamente na sua Enciclopédia Universal.
A estrutura dava pelo nome de PCP.
O âmbito apelidava-se de Congresso.

Saturday, November 27, 2004

Blog & Fame

Blog & Fame,

ou Fama(ções) e Blog(acções).

Confesso que depois materializar este blog, comecei a olhar um pouco em volta a ver o que se escrevia, ou como se diz na gíria dos entendidos, se "blogava".
Confesso também, que com a minha experiência de internet e de todo um "Digital Lyfestyle" a que os ossos e os músculos do pão me induzem, e ao qual a minha vertente de slahsdotter/nerd contribui activamente, nunca tinha ligado muito ao fenómeno blog.
Confesso também que o presente é meramente um exercício egoísta de me dar a conhecer e a determinadas perspectivas que me ocorrem, com o fim, no fundo, de comunicar. Não é exactamente um daqueles espaços de discussão abertos, portanto quem venha com essa ideia Linda & Maravilhosa das Aberturas Universais à Discussão, desengane-se: este é para quem gosta, para quem tenha pachorra, ou para quem não tenha melhor que fazer do que aturar as minhas Diásporas. Não é nem pretende ser um "blogo-jornal", um "tele-blog", ou qualquer referência que seja para quem quer que seja.
Confesso também que a qualidade e diversidade também me surpreendeu. Há blogs que considero efectivamente a anos luz, em quantificação distancial de interesse humano, do que por exemplo se passa no actual parlamento ou em muitos jornais.

Confesso também, que um dos que mais me interessou foi o Arcabuz.
Por vários motivos, mesmo que não concorde com algumas opiniões expressas, ou que ache desnecessária a discussão do Casamentos Gay como abordagem à discussão essencial da Liberdade e da Moral no que toca aos problemas da Humanidade neste âmbito (sem efectivamente querer desvaloriza-la e à sua importância para os interessados, mas desculpem lá, eu não sou e vejo muitos outros problemas mais prioritários e mais abrangentes e não creio que os casamentos gay tal como os direitos animais sejam as muletas necessárias e urgentes ao desenvolvimento da ideia de se ser humano na actualidade), ou ainda que não goste de alguns exercícios de "comentários de serviço", respeito-o(s) bastante e visito-o(s) frequentemente, por exemplo, muito mais do que a figura paternal da bloguidade portuguesa que todos sabem qual é.

Foi lá que me apercebi de uma discussão sobre uma certa "lei dos blogs" no que toca às possíveis responsabilidades civis de eventuais infracções de direitos à imagem, difamações e afins e me fez reflectir um pouco sobre esta matéria.

Não tendo nem querendo ter queda para legislador, interpretador ou interveniente não me interessa se existirá ou não mais uma ridícula tentativa legislativa de condicionamento de conteúdos de comunicação. Já me sobra ser juiz de mim próprio.

Parece-me pertinente avisar o visitante da minha Diáspora, de que entra na minha privacidade.
Como se sentasse ao meu lado para me "ouvir", para conversar comigo.
Ou quer, ou não quer.
Se não quiser, esteja à vontade.
Se quiser, esteja também à vontade.
Quem aqui vem conhece-me directa ou indirectamente.
Quem aqui calhar pode, se vier por bem, conhecer-me.
Se se sentir eventualmente difamado, desculpe-me alguma coisa, mas disse-o em privado.

Ou teremos um dia legislação de uma qualquer "Central de Comunicação" para aplicar microfones nos bares, cafés, casas privadas, entre amantes, amigos, borgas, etc. ...?

Obrigado, Arcabuz, por me fazer ocorrer esta ideia, que originará um EULA/Disclaimer/Declinação de Responsabilidade incluído no necessitado "lifting" visual que está para breve, quando me der para isso!

Wednesday, November 24, 2004

Mais Astrais!


> "Eu quero que o país vá subindo no seu astral!" Estas palavras de Santana Lopes, proferidas do púlpito no discurso de encerramento do último congresso do PPD-PSD-PSL, são o que se chama um grito de alma. Não é "Cogito ergo sum", nem "I have a dream", mas cada nação produz o que produz. No nosso caso é mais bolos. (...) <

É bom saber que não sou só eu que não me deixo encantar pelos dotes comunicativos e sedutores de PSL..

Tuesday, November 23, 2004

E os agressores?

Esta história da violência contra mulheres, tresanda.
Tresanda porque é mais uma discussão feita sem método nem abordagem à profundidade do problema, repleta de interessados/as em fazer carreira na pseudo-filantropia, e recorrente à "chapa 5" da opressão do acto, ao invés de o procurar prevenir e solucionar.

A violência tem sempre dois intervenientes, cada um dos quais, nunca se pode abordar isoladamente um do outro nesta dinâmica relacional.

Temos a vítima e o agressor envolvidos numa relação, seja qual for.
Naturalmente que a pré-vítima não é inerte e neutra no processo que se desenrola até à agressão.
Naturalmente que o pré-agressor deveria poder conter os seus impulsos.

Como se pode verificar nesta dinâmica, uma violência activa existe sempre acompanhada de uma correspondente passiva. É um "equilíbrio" entre os dois intervenientes no processo, com variados âmbitos presentes que ajudam a construir a circunstância.

ambito

Sem pretensão de fabricar uma verdade universal, parece razoável intervir no processo onde ele se desenrola quebrando o ciclo de agressão/aceitação que o eterniza e o protege das consequências e responsabilidades.
Mais uma Aparência.


discussao actual


A presente discussão à volta da violência sobre as mulheres incide sobre a inibição através da censura social do momento do processo em que se passa da Génese dos Impulsos Agressivos à Concretização.


discussao necessaria


A discussão inexistente ganharia outra dimensão se incidisse sobre a inibição do passo anterior: aquele em que se começa a formar a Génese do Impulso de Agressão.

Por isto mesmo, os meios que são empregados na protecção da vítima seriam muito mais eficazes se o fossem na ajuda ao agressor.

São apenas ideias com um pouco de ciência do oitavo ano, não é preciso muito.

É que o agressor também precisa de ajuda. É se calhar o que mais precisa.
Onde estão as linhas gratuitas para o agressor pedir ajuda?
Onde estão os centros de prevenção da agressão a que o agressor deveria recorrer?
Onde estão os anúncios de, por exemplo, uma mulher aos berros e o homem a levantar a mão, de repente aperceber-se do que vai fazer e ao invés de concretizar poder telefonar para uma linha amiga que lhe estenda a mão?
Quando param estas imagens angustiantes das mulheres maltratadas, cheias de hematomas, banais no meio das carnificinas de toda a violência gratuita da televisão, e se transmite uma imagem de esperança?
Quando se aplicará só um pouquinho de ciência - não é preciso muita - e se parará com estes fadinhos pseudo-filantrópicos?
Quando se parará com as sucessivas campanhas negativas e se optará por campanhas positivas, ou estas estão reservadas exclusivamente ao consumo?
E os agressores, não são pessoas como todos nós?
Pê.

Friday, November 19, 2004

Marocas, o Profeta.

A chamada Geração de Abril, de um modo lato, tem-se encontrado um pouco à margem de uma reflexão crítica endógena, mais culturalmente enriquecedora do que se deixada para os historiadores depois de desaparecida, dispersa pelas campas, jazigos e homenagens póstumas e conciliatórias.
E bem que Pê precisa!
Entre a esquiva a uma discussão séria e abrangente sobre o que se passou desde há 30 anos, e o desprezo pelos inconsequentes lamentos de certos sectores sobre as nacionalizações, expropriações, ocupações, descolonizações e afins, é-nos prevista uma orfandade segura para o futuro.
O lamaçal 24-D é uma consequência directa, fazendo-nos intrigante e repetidamente relembrar aquela velha máxima de Malatesta: "O fascismo far-vos-á amar a democracia". Os extremos ideologicamente vazios mas perigosos, formam-se à sua volta com o terreno fértil de 30 anos passados de quase-nulidade de desenvolvimento e modernização quer educacional, quer cívica.
Quero dizer com isto que desdenho as conquistas de Abril? Não, mas sem dúvida que as des-sacralizo(!), pois essa revolução apesar de gira, oprime-me e sufoca-me, com o esvaziar das discussões com argumentos comparativos a uma outra Senhora da qual faço parca ideia. Curiosamente, todos pactuaram com essa minha pobre ideia, já que uns colocaram repetidamente o 25-A para o final dos programas de história no liceu, e outros deixaram que isso acontecesse. Talvez por falso consenso? Não sei. O facto é que este hiato tem vindo a permitir às gerações que frequentaram as escolas da década de oitenta para cá, que se distanciem da base da formação cívica de um povo ou entidade cultural:
De ONDE VIMOS, para contextualizar o ONDE ESTAMOS e nos ajudar permanentemente a criar o para ONDE QUEREMOS IR.

tri_t_xyz

Se encararmos uma correlação dinâmica entre estas três variáveis interconstringentes, veremos que:

1) Se asfixiamos ou sobrevalorizamos a presença do passado na cultura, alteramos significativamente o contexto de presente e o fluxo das ideias para o futuro.
2) Se não criamos nem desenvolvemos ideias para o futuro, o contexto de presente torna-se supérfluo e reduzido ao acessível e imediato. O passado é então ainda mais reduzido, ou então desproporcionalmente sobrevalorizado como compensação dos vazios socio-culturais.
3) Se o presente não é participado nem contextualizado de uma forma clara e realista, os subsequentes desequilíbrios do passado e do futuro fazem-se sentir.

Estes equilíbrios tão caros aos Portugueses na sua já longa história, repetem-se de uma forma intrigante. E repetiram-se novamente após a orgia de discussão dos verões quentes (foi só um? risos...), com alguns ecos idiossincráticos que duraram poucos mais lustros, mas de repente, olhando os sucessivos presentes que formam o meu passado, fico com a sensação de que é "preciso enterrar o passado". O da outra Senhora, e o do 25-Abril, excepto no que toque às cerimónias, homenagens, e palhinhas para se comprar mais uma casa no Algarve.

Mário Soares tem toda a razão quando fala em "revoltas descontroladas".
Mas não se processam como ele as concebe.
Estas revoltas já estão em curso, quer com o veludo narcisista (ou narcísico?) do assalto ao poder como materialização da realização de vida por parte de gente que nunca fez outra coisa, nem acerca da qual se lhes conhece competências fora dos exercícios de poder/vontade de poder, quer com as tais "minorias descontroladas", estas pseudo-direitas e pseudo-esquerdas de Aparência em detrimento de seriedade na discussão do PARA ONDE QUEREMOS IR.
Estas revoltas já estão em curso com a pasmaceira de 24-D ébria em pseudo-classes média e alta, fechadas no presente imediato do consumismo, no passado conformista do "já fomos os melhores" e num futuro vago entre a Europa e a América sem se perceber no que é que afinal Portugal se pode diferenciar.
Estas revoltas terão eventualmente direito a prolongamento, quando os filhos destes 24-D não tiverem pudor em questiona-los e às razões de os terem posto neste mundo cada vez mais complexo.

Este Mário Soares tem a razão no target da sua crítica.
Mas como a água da chuva, falha o algeroz e derrama-se do telhado, mas indo sempre acabar na sargeta.
Dê por onde der.
Sempre foi assim este tipo de sabedoria, a que acerta nos resultados por caminhos que não passaram pela cabeça do próprio nem de ninguém.
A Sabedoria dos Profetas.

Tuesday, November 16, 2004

Taxis

Nas múltiplas vezes que utilizo taxis nas minhas deslocações, quando se proporciona, gosto de ouvir o que o povo diz acerca deste ou daquele assunto.

A par dos Porteiros, os Taxistas encontrar-se-ão entre aqueles que lidam com um maior leque de contactos transversais na sociedade, traduzindo-se numa particular multiplicidade de recolha de opiniões.

Quando é conveniente, faço uma pergunta simples:

"O Sr. confiaria o governo a uma pessoa que liga mais ao que os outros dizem dele do que a qualquer outra coisa?"

A resposta é sempre, um rotundo "Não Senhor!".

Afinal veremos em 2006, se serão apenas mais uns tímidos e característicos luso-queixumes inconsequentes.

Ecos

Ecos (I)
Naquele "Vilar de Perdizes de Barcelos", aquela sucessão de imagens que antecederiam o discurso do "Grande Líder dos Astrais Luminosos", desde a sua infância à sua cândida adolescência, fotografias a preto e branco enternecedoras e aparentemente legitimadas por um certo "ar documental" prepararam e condicionaram os olhos postos sobre o encerramento do dito Congresso, aconchegando os corações permeáveis a tanto excesso de maravilha.
Imagens sortidas sobre o "Grande Líder dos Astrais Luminosos" durante esta escandalosa auto-deificação, mostram-no enlevado e contidamente radiante com este derramar contínuo, repetido e obsceno do seu Eu sobre toda a gente. Embevecido por se rever como tanto gosta no espírito dos outros, infinitamente gratos pelo "Astral Luminoso" emanado pelo seu "Grande Líder", sublimou-se secreta e intimamente por toda a gente estar a pensar em si.
Seguiu-se efectivamente o tal discurso da "Elevação do Astral".
Ora veja-se o cabeçalho oficial dos agregados do "Vilar de Perdizes de Barcelos". Ora atente-se a todos os elementos gráficos imagéticos no dito Sítio.
Assinale-se a escabrosa paridade apenas diminuída pelos canais alfa de transparências de Sá-Carneiro (à esquerda do dito, coincidência?), bem como a omnipresença do "Grande Líder dos Astrais Luminosos" por todos os elementos gráficos em que o pobre do Designer conseguiu colocar.
Por tudo isto, nota-se muito que a "Perfumada Emanação do Grande Líder Radioso dos Astrais Luminescentes" soa muito a homenagem póstuma precoce.
No meu entender, as homenagens constantes e contínuas desta forma, costumam assinalar grandes feitos de ilustres personagens que desapareceram, ou que por conquistas ímpares obtidas são reconhecidas por algum organismo mais neutro (um nobel, algo assim..).
Neste mesmo meu entender, tal auto-devoção do "Grande Líder do Astral Incadescentemente Luminoso" pretende recolher a glória que intimamente a sua parca auto-estima saberá que não recolherá na posteridade.

Alguém me saberá apontar um "Grande e Glorioso Feito" deste "Grande Líder do Astral Celestial"?
Um que seja!
Um que se eleve ao nível de outros conseguidos por personagens tão discretos como Mário Soares ou Alvaro Cunhal, até Cavaco Silva e gente desta craveira?

Os imediatos são para ser vividos no aqui e agora.
Este "Grande Líder de Astrais Celestiais Irradiantes sobre o Humilde Povo Português" tem uma grande necessidade de recolher os Frutos do Ego, antes da Conquista.
É como uma conquista numa noite de discoteca.
É o "tudo imediato" e no "agora".
São mais Segmentos.
É a necessidade de se ver fora de si próprio, reflectido na sua individualidade emanada sobre o colectivo.

PS: Eu de facto estava a VER o Contra-Informação que foi interrompido no Domingo último. E ria-me como há muito não me ria.

Ecos(II)

A lenda de Eco e Narciso é reveladora.

Portugal, a começar pelo PSD-visível, transforma-se lenta e serenamente no Charco De Água Prateada no qual Narciso viu o seu reflexo pelo qual se apaixonou, no qual definhou e morreu nascendo a flor homónima no seu lugar.

Os Portugueses transformam-se numa Eco, como ecos que repetidamente soam por nenhures na necessidade de se valorizarem na sua identidade, que esmorecem contra a essência definhante do Narciso apaixonado por si próprio.

Da flor eventualmente resultante, talvez os reformados do norte europeu aproveitem os resourts & condomínios, casinos, casas de alterne, campos de golfe, corridas de cavalos e um ou outro jogo de futebol.

Quem sabe se Némesis não fará a propagação do seu hálito gélido através de 24-D despertos(!), ou mais à frente, dos meus/teus/nossos/seus filhos?
Alea Jacta Est.

Astrais

Ainda não há muito tempo, algo de astral, seria efectivamente uma consideração de natureza mística.
Quais viagens ou mapas astrais, evocaria sempre uma elevação subliminar, espiritual por definição, movida por proto-pensamentos irregulares e muito dispersos. Segmentos e farrapos de ideias que quase que se formam e que nesse limite, prontamente se diluem na salada que todos temos dentro, nuns algures de profundeza variável de indivíduo para indivíduo.
Desde o permitir a obtenção de pequenas satisfações explicando Aparência inexplicável, ao fundamentar proto-decisões, os destinos dos Portugueses foram astralmente sancionados em Barcelos, como se o tivessem sido em Vilar de Perdizes.

Desde aquela salada do "Bairro Alto Astral" que esta perspectiva se revela preocupante. Ora "Bairro Alto Astral" soa a antónimo de "Profundeza de Túnel Demoníaco", dualidade duvidosa de equilíbrio sombrio, ao que acrescentando "Nossa Senhora de Fátima, chegue para lá o Prestige e mande-o para o Hades de Espanha", ainda coloca qualquer percepção racional e sistematizada ainda mais terrificada.

O Primeiro Ministro conseguiu legitimar-se numa extraordinária sessão espírita em que esconjurou aqueles indivíduos que durante o meu crescimento faziam política, embora não concordando, traziam substância e racionalidade ao debate, como se de malignos e iníquos seres extra-físicos se tratassem. Se as palavras deste evocassem efectivamente a alma do malgorado Sá-Carneiro, provavelmente S (Santana Lopes) estaria a construir a sua casa de poder sobre um cemitério índio, tal e qual Poltergeist. Esta é uma daquelas situações em que quase dá pena que não funcione como alguns dizem.

O facto é que ao pedir aos portugueses, mais uma vez, um Alto Astral, não só demonstra que temos um ser absolutamente demodé e pretensioso de que está na "crista da onda", mas também escarnece ignobilmente dos afectos da população desgastada de repetidos erros e faltas de respeito.

O "Alto Astral" que S pede aos Portugueses, é mais revistas cor-de-rosa. É pedir-lhes que sem embrenhem mais em Currais de Celebridades & Proto-Celebridades-Arranjadas no escritório do Tomás.
Este "Alto Astral", pede que os Portugueses se fiem na Virgem.
Pede ainda que caso prefiram, consultem os serviços da fada Maya.
Pede ainda a outro sector significativo, que façam viagens até aos Himalaias, resourts nas Caraíbas ou uma qualquer capital europeia, para se afastarem desta pocilga de gente que vive na dualidade entre o voto e o dinheiro do contribuinte.
Alto Astral à la carte.

Mais do que misticismo, esoterismo-à-Kapital ou fé, atiram-nos com uma autêntica Salada para os olhos.
O pior é que não é uma Salada Cósmica, onde eventualmente se misturaria um pouco de tudo, de Zen, Budismo, Judaico-Cristianismo, animismo afro-brasileiro, lendas célticas, etc..
É uma Salada de imundícies que tresanda em todos os seus flavours.
Uma salada de narcisismos.
Pê.

 

24-D

Faço aqui um extracto da ideia de 24-D, pois julgo-o pertinente, neste momento.

Origem.
24-D foram 24 votos que faltaram, de pessoas que poderiam ter participado, mas que escolheram não o fazer. Com a premissa do "Eles nunca fazem nada", "são todos os mesmos" e afinidades, demitiram-se da decisão, da participação, mas não da sua responsabilidade. São, de facto, responsáveis. AQUI estão mais detalhes.

Caracterização.
24-D, hoje têm algo entre os 20 e os 35 anos.
24-D são a base mais jovem do segmento populacional melhor formado, preparado e com maior margem de progressão nos seus objectivos.
24-D têm, em média, estudos acima do Secundário.

(Des)Magnetizações.
24-D são os "24-simbólicos" que não votaram daquela vez.
24-D têm, quando muito, um cartão de uma jota partidária, bafiento, no tempo daquele(s) amigo(s) do(s) carro ou da mota.
24-D Nunca discutiram ou questionaram os modelos pedagógicos na faculdade.
24-D Resignaram-se com decisões notoriamente de Aparência.
24-D Foram para o Algarve no no dia do referendo à Lei do Aborto. Mas se necessitarem, recorrem a uma clínica clandestina.
24-D Nunca reflectiram sobre regionalização.
24-D Acham "engraçadinho" o Saudita da Madeira, resignam-se e pagam-lhe as brincadeiras com alguns impostos aos quais não conseguem fugir.
24-D Não participam em actos de afirmação cívica, isso é para os "comunas".
24-D Tão pouco participam em estruturas políticas, "isso é para os que não querem fazer nada".
24-D Estão-se nas tintas para a justiça, até dá jeito o atraso dos tribunais para não terem que pagar as multas de trânsito.
24-D Escandalizam-se mais com Carlos Cruz, do que com a Madeira, Jardim de belém, Monsanto, Intendente, Martim Moniz, Parque Eduardo VII, Cais do Sodré, páginas de classificados do Correio da Manhã, Mea Culpa, afins e enfins.
24-D Já foram a Londres, Paris, Barcelona e outras cidades, mas nunca pensaram que a sua cidade poderia ter a mesma auto-estima, muito menos participar neste sentido.

Polarizações.
24-D São os maiores responsáveis pelo decréscimo de qualidade da Política portuguesa.
24-D E o seu alheamento permite a aproximação das Aparências às definições de decisões e suas execuções.

Em suma,
24-D São os maiores responsáveis pela sucessão e repetição de erros estratégicos aparentemente tomados pelos titulares dos cargos correspondentes: 24-D, permitem-no.

 

 

Os Túneis do Sexo (II)

Impotência.
Impotência do interior de seres que conjuram e tramam urdiduras de Aparência.
Impotência em se apresentar consistência.
Impotência em se SER consistência.
AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.
Impotência em se ser flexível.
AQUI.
Impotências dos espíritos, compensadas pela Graça de Aparência.
Por Aparência, Lisboa é como uma viúva de guerra, de casa pilhada.
Violada.
Até à cave.
Gigantescos túneis existem na mente dos Lisboetas. Simplesmente para receberem os gigantescos falos com que os narcisos compensam as suas impotências.
AQUI, porque Aparência é o fim.
AQUI, porque Aparência é o meio.
AQUI, porque meios e fins confundem-se.
AQUI, porque é Aparência de antítese.
AQUI, porque é antítese de Aparência.

E os Lisboetas recebem os falos repetidamente.
Estes entram em Lisboa pelos Túneis do Sexo que os narcisos abrem ou deixam que se abra.
São Túneis que convergem todos numa direcção:
24-D.
Pê.

 

Beirute

Não, não, nunca fui a Beirute.

Soube da existência do Líbano ainda em Paris. Virava-se a década do sete para o oito, e na confusão de senegaleses, turcos, tunisinos, iranianos, argelinos, franceses, portugueses, italianos, chineses, japoneses, irlandeses, ingleses, suecos, holandeses e alemães, de cada qual tenho a Memória do nome, conheci duas Libanesas cujo nome não me recordo. Foi a minha primeira associação ao Líbano, petrificada na minha memória pelo carinho que aquelas duas irradiavam sobre o ser pequeno de seis anos recém-completos.
Sorrisos daqueles, vemos poucos ao longo dos anos, pelo que marcam.

Durante o Mundial-82, em Espanha, entre o Naranjito e o Zico, mais tarde a torcer pelo Platini contra os Italianos, vejo um telejornal.
Beirute.
Aviões Israelitas deitam bolas de fogo, parecem foguetes lá no alto. De imediato as imagens mudam para filas de crianças da minha idade a chorar, prédios a derrocar, paredes a tombar e aquelas crianças e as suas mães, sempre a chorar.
Nunca me esqueci de Beirute.
Desde aquele telejornal, os Israelitas bombardeiam aqueles sorrisos memoráveis que guardei até hoje de Paris.

Hoje, mesmo depois de ter lido "Media Control - The Spectacular Achievments of Propaganda" ainda não me conformo quando afinal o que eu vi foram crianças a chorar com os bombardeamentos, e Israel na eterna vitamização que explora imoralmente até à medula, herança de fornos enormes e chuveiros que não deitavam água.

Dizia o outro, que antes de se ser Cristão, é-se Judeu. O Velho testamento é o mesmo. O Novo é um acrescento, com a consequente amplificação do espectro de interpretações. Moisés, é tão Judeu como Cristão, é tão deles como meu, que aqui nascido nesta teia cultural, não fui à Pia. Por alguma razão se fala em Judaico-Cristianismo.

Ainda hoje, aqueles aviões Israelitas bombardeia-me aqueles sorrisos.
Sabra e Chatila ficavam no Líbano. Os que lá morreram não eram de lá.
Arafat andava em Beirute. Mas também não era de lá.

O Povo Judeu, fala na sua Diáspora milenar. Nós os Portugueses, muito devemos a essa mesma Diáspora, embora a tendo maltratado, esta diluiu-se em nós e de alguma forma contribui para o que somos, para bem e para mal. Tendo em conta toda a burguesia Judaica, Espinosas e afins, considero hoje os Judeus como um povo em quase tudo europeu.

Mas hoje, em Diáspora, estão os Palestinos expulsos das suas terras após a chegada "daqueles europeus" depois daquela guerra que eles lá fizeram.
Hoje em Diáspora estão os Libaneses, de Libreville a Lisboa, de Paris a Los Angeles. Por causa daqueles "europeus".

O Israel de hoje em dia, é muito distante da glória de David ou da justiça de Salomão.
Assemelha-se mais à corrupção de Heródes, e à catástrofe da Libéria. O dinheiro artificialmente lá injectado e a noção de justiça faz com que todos os restantes sejam Os Outros na sua casa.
Os Europeus, a mal ou a bem, esses, conseguiram destruir um Muro. E vão destruindo mais Muros entre eles.
Aqueles "europeus", vão construindo a mãe de todos os Muros, as prisões de todas as prisões.
La vitimization oblige!

Em Beirute aqueles aviões bombardearam aqueles sorrisos de que nunca me esquecerei.
Em Beirute, aquele Mário passou o Cerco, o Muro.
Em Beirute, o mundo conheceu Arafat.

Fica bem!

Tuesday, November 09, 2004

"Os Outros" / "The Others"

Ou, As Americanas(II).

É o apelo sem dó dos Americanos às Americanas.

As Americanas são tramadas: Só aceitam Americanos.
As Americanas regozijam-se quando são participadas.
As Americanas adoram ser agitadas.
As Americanas ainda gostam mais de agitar.
As Americanas adoram ser maravilhosas.
As Americanas adoram ser populares.
As Americanas são cheer leaders.

As Americanas, são eleições.
As Eleições Americanas.

Nós, os restantes, vivemos na casa alheia.
Casa do casal Americanos e Americanas.
Sobranceira a prados verdes, com uma propriedade em redor, a casa em estilo Vitoriano tem a da serventia acoplada. E as dos rendeiros.
Mas curiosamente, o burburinho desta casa é feito por poucos.
Pelas Americanas e Pelos Americanos.
Pela criadagem.
E poucos mais.
Que estranho que cortinas aparecem abertas quando estavam fechadas.
Que móveis surjam deslocados de onde foram irrepreensivelmente arrumados.
Que espécie de Poltergeist, este, que se forma nesta propriedade!

Nós, ai de nós, uns tais de 80% fantasmagóricos que apenas pairam como fogo fátuo sobre As Americanas, as tais Eleições:
Somos meramente
Os Outros.

As Americanas.

Sinto e penso-me mesmo com falta de imaginação e originalidade para falar, comentar, opinar ou arranjar uma posta que seja, de pescada ou de bacalhau, para me referir às Americanas.

As Americanas deram tesão ao mundo inteiro.
Provocaram intumescências, nos cinco continentes.
Nas televisões, as hardons viris brilhavam.
As femininas pálpebras íntimas, aquosamente humoradas, pulsavam.
Cada sondagem, arrastava comentadores e comentadoras numa euforia sem paralelo desde os Beatles.
O gang bang reprimido atravessou o Atlântico, o Pacífico, a fronteira com o México e desdobrou-se em múltiplas ondas pelo mundo inteiro.
Tantas quantas hardons.
Tantas quantas femininas pálpebras.

Quase todo o mundo tentou mendigar discreta e libidinosamente às Americanas que apareceram pela TV, pelos jornais, pelas rádios, pela Internet em jeito de omnipresença e omnivalência:

Deixas-me introduzir o meu voto na ranhura da tua urna?

Monday, November 08, 2004

A Memória.

Tinha um ano e poucos picos.
Subia a encosta da antiga arriba da linha do Estoril.
Não me apetecia andar.
Subir naquele esforço desde a Estação do Monte Estoril até ao local atrás de uma cortina sombria onde me dizem ter vivido, era um suplício.
Era uma Diáspora de um ser de colo.
Fiz birra.
Segurava um Corneto de Morango.
Parti o cone empastelado de derretimento na mão.
Fiz Política.

Mais birra.

Viro-me para trás, fito o sol poente sobre a enorme boca do mar que mais tarde vim a conhecer como Barra do Tejo Ou Mais Além.
Vejo um barco enorme: Petroleiro? Cargueiro? Não interessa, mas era muito, muito cor de laranja.
Era o mesmo barco,
o tal que pouco meses mais tarde chamaria de Co'b'ianja Ba'co.
Era o mesmo barco,
Indubitavelmente.
Era o mesmo barco,
que durante anos eu procurava pela janela da Linha.
Era o mesmo barco,
que de tempos a tempos reencontrava quando ia pela mão de uma origem.

Foi aquele barco que me fixou o acre seco do Sal do Guincho, do Sal da Galé, as cintilâncias daqueles sonhos no Deserto Australiano, aqueles brilhos doirados do Sol nas pequenas ondas no Tejo, e nas ondas das dunas do mar de areia de Dune. Autêntico silício liquefeito.
Cada um daqueles pequenos brilhos próprios do mar calmo de fim de tarde de verão, cuja existência é tão breve como absorta, é uma partícula naquele fulgor plano do formigueiro do peito com que o orgasmo dificilmente compete.
Aqueles traços aloirados de fim de tarde que descem como estrelas cadentes sobre a individualidade da mais pequena crista da menor das ondas, só têm páreo com os que descem sobre um rosto de afecto.
Sobre um rosto levemente acobreado.
Aquele Sol alaranjado, aquele Co'b'ianja Ba'co, polarizam-me as pulsações e tornam-me ofegante, não por falta de ar mas por dispensar o peso da respiração, e pela dispersão naquele manto de ondas.
Aquele Co'b'ianja Ba'co sempre cortou a respiração, aquele Sol alaranjado sempre aplacou qualquer consternação e eu sempre peneirei a minha vida naquela rede cintilante sobre o mar da fim de tarde de verão.
Sempre me revi naquele rosto desenhado, acobreado e doirado de textura de mar, sempre lhe pungi a minha resplandecência de Verdade, sempre lhe diluí Aparência, naquele
Co'b'ianja Ba'co Sob o Sol Alaranjado, Ao Fim Da tarde de Verão.

É aquele mundo que nunca deixou de existir na minha Verdade, pois estou sempre na Barra do Tejo Ou Mais Além.

Era o mesmo barco, aquele que sempre me transportou.
Nas subidas a pé por encostas de arribas, entre a vida, essa, e as marés.
Entre a estreita faixa de areia e lá, o alto, onde as coisas, dizem, acontecem.
Entre a Barra do Tejo Ou Mais Além e lá o alto do Monte Estoril atrás da cortina sombria da Memória.

A Memória tem este valor, este fulgor, este alcance e esta Verdade.
Centra-se na vontade, na birra.
Na Diáspora, na Política, o afecto é Origens...

É este mesmo, o barco!
Este em que me transporto
na Diáspora, na Política, em que a Memória existe.

Sunday, November 07, 2004

Eu Estive lá.

Sim, de facto, de alguma forma, Eu Estive Lá.

Estive lá, na minha origem escondida e clandestina.
Estive lá, quando a minha existência se processava e a Rádio libertava.
Estive lá, no meu nascimento e no que então se passava.
Estive lá, quando se ocupava e se colectivizava.
Estive lá, naqueles braços de soldado, no alto do muro, na capa do diário.
Estive lá, naquela primeira carta do Estado Maior General das Forças Armadas deitada ao lixo sem ser aberta.
Estive lá, na primeira objecção de consciência.
Estive lá, na primeira macrobiótica.
Estive lá, fora do país à procura de mais e melhor.
Estive lá, no squat em Paris.
Estive lá, nos restos do Maio de 68.
Estive lá, na aldeia do interior, sem luz nem água.
Estive lá, naquelas grandes cheias.
Estive lá, a espreitar pelas cercas o lado Leste da Divisão.
Estive lá, onde o submarino soviético encalhou, Whiskey on the Rocks.
Estive lá, quando se discutiam localizações e quantidades de mísseis nucleares.
Estive lá, no Mar do Norte de Outono no meio das vagas gigantescas.
Estive lá, quando se atravessou a fronteira e se notou que entrámos para a CEE.
Estive lá, quando o medo dos mísseis me trespassava na Europa Central.
Estive lá, quando imaginava que Mad Max era um cenário de futuro bem real.
Estive lá, quando Chernobyl vai à vida e o coração aterroriza-se com a radição e sofre pelos meus.

Afinal, estive sempre lá, de uma forma ou de outra.

E tu, só agora vais?
Onde é que pensas que vais?

Afinal, sempre fui Jonas e Tive 25 Anos no Ano 2000.

Para que fique claro,

Eu Estive Lá.
E tu, onde estavas?

Saturday, November 06, 2004

Educassão é uma palavra.

Há muitos anos atrás, pediram-me que fizesse um texto sobre a política educativa (recuso-me a usar maiúsculas neste contexto) de então, com o fim de resultar numa contribuição para uma determinada publicação.

Nesses idos algures em 1993/1994, ainda não havia Internet, SMS e e-mail. O uso dos computadores como meios de produção estava então reservado a ambientes ou profissionalíssimos, ou restritivíssimos de umas quaisquer salas de informática nas estruturas mais apetrechadas. Assim, leitura era efectuada de forma quase exclusivamente física, e a escrita, era o frenesim dos dedos e a tensão da mão por vezes em autênticas maratonas de Step-estenográfico.

O texto que mui orgulhosamente produzi, iniciava-se, se a memória está correcta, com a frase:

"O Estado da Educassão em Portugal".

Recordo-me ainda que pelo corpo daquele texto, introduzi circunstancialidades ortográficas afins noutros termos.

Eram tempos de muita vontade de afirmação, frequentemente até em demasia para este corpo, próprios para o quociente idade/circunstância, e - quero confessar - julgava que poderia ganhar um Pulitzer ajudado pela Graça de Aparência. Aí iniciaria a rampa ascendente de actividade política, que me permitira a prazo mais ou menos médio, mudar o mundo para melhor - claro segundo a minha ideia. Tinha então feito todo o filme do resto da minha vida.

Uma vez terminado, o texto, foi submetido à apreciação discreta de duas pessoas de confiança.
Eu não desejava entregar o dito a quem prometido, sem primeiro obter a percepção que ambos teriam com a sua leitura.
O atraso verificou-se. Na obtenção dos ditos feedbacks.
O assunto morria assim que eu o chamava.
O assunto acabou por morrer definitivamente.
A contribuição e o âmbito para a referida publicação caíram.

Tempos depois, talvez um par de meses, V. confessa-me discretamente que D. andava preocupad@ com a minha escrita e com o meu nível cultural. Que tinha encontrado "(..) erros ortográficos inacreditáveis (..)" num texto "qualquer" meu que tinha "achado".
Foi o momento em que a lâmina penetrou sem anestesia no meu almejado Pulitzer.

Aparência tinha-se dignado a bafejar-me com a Sua Graça de tal forma, que Verdade brincou comigo.
O meu Pulitzer ali, assim... tão perto e tão longe. Mas afinal, funcional...

Hoje magoa-me não ter esse texto comigo.
Esse, e muitos perdidos pelas dispersões desagregantes em que a minha Diáspora foi nascendo.

Mesmo sem Internet, SMS, e-mail e afins, Educassão afinal era então já uma palavra!

*

/*
A utilização de Aparência.
Não, não é erro sintáctico, Aparência surge aqui como um Objecto manipulável pela razão e pelo afecto.
Tal como se falasse de Educação, por cá, talvez utilizasse o termo Educassão.
Ou talvez utiliza-se o termo Educassão.
Ou tvz utse o term Educassão.
E não seriam erros ortográficos.
Não, meus senhores.
Um Objecto interpretável nunca se pode, honestamente, dissociar do seu âmbito.
Sugestão contrária, é fraude até mais ver.
Dogma.
*/

Aparências II

Coisas que me vêm à mente.
Frequentemente encontro-me a perder tempo. Fito um qualquer horizonte para além dos limites da visibilidade que o sensível me apresenta, e tento perceber tudo o que não compreendo.
Tudo o que esteja para além de Aparências.

Num Metro de faces anónimas, pungente em olhares desbocados de rostos de Aparência, interrogo-me sempre:

Será natural a inexpressividade de Aparência, ou será natural a expressividade de Aparência?

Tomando o lugar desse qualquer horizonte que nem sei caracterizar, em Fade-In à Sam Mendes (brilhante!) surge-me a imagem de uma qualquer que um dia dava pitecadas com o indicador impulsionado pela força efectuada para provocar a cedência do seu polegar, nos seus Incisivos Superiores e se gabava, com 27 anos, da capa de cerâmica, ou de um compósito qualquer perlado, um desses materiais dos dentistas - sei lá - que revestia a sua Verdade dentífrica. Num corte de cena abrupto, os meus olhos focam-se numa desconhecida, lá ao fundo, com uma ligeira massa de carne não identificável na sua pálpebra superior do seu olho esquerdo. Novo corte abrupto. Perdi muito cabelo desde a minha adolescência, que acontecia ainda há cinco minutos. Cada pitecada daquelas, era um cabelo que me sentia arrancado, roubado. Cada um como um gongo hindu, sob o som do Mantra que se encaminha para a minha decadência de Aparência. Imediatamente preocupo-me com o posicionamento da minha postura. Quero que Aparência seja tão expressiva como inexpressiva. Sonic Youth ecoam-me nos meus ouvidos e provocam-me um Fade-Out, também à Sam Mendes, e fixo olhar num horizonte bem mais tangível e caracterizável:

O dos carris cintilantes num esplendor mecanicista, da via de sentido contrário do Metro.
Brilham, cintilam sempre de forma desigual, sempre em inúmeras rectas de intensidade nunca igual, mas sempre paralelas.
Os carris, esses, sim, conhecem muito bem Aparência.

Mas afinal o que têm estas Diásporas da mente e dos afectos, de relação com Política?
Tudo.

Banalizada a Aparência de assunto de deste Blog, a sua Verdade começa - até para mim! - a tomar alguma forma de concretização.
"Repositórios de ideias" sob a forma de páginas online com a Política como tema central é o que não falta.
Da esquerda à direita, do alheamento ao activismo ou militância, de "Meu Querido Diário" a ensaios prosaico-poéticos, de irrealismos a concretizações, de diários de viagens a esgalhanços de pessegueiro técnicos... Haverá de tudo, pelo que Tudo é banal.
Nunca houve neste Blog, presunções de Originalidade, Verdade Universal & Absoluta ou Fenómeno de Massas que abram telejornais ou leadings de notícias por uma qualquer opinião neste expressa.

A Política que se faz neste Blog, é uma emanação de Aparência sob a forma de umas quaisquer Diásporas em que a mente se vai perdendo.
Ou se reencontrando.
São coisas que vêm à mente.
Se estas coisas assumem forma de acção, acabam sempre por ser Políticas, portanto...