Saturday, November 06, 2004

Educassão é uma palavra.

Há muitos anos atrás, pediram-me que fizesse um texto sobre a política educativa (recuso-me a usar maiúsculas neste contexto) de então, com o fim de resultar numa contribuição para uma determinada publicação.

Nesses idos algures em 1993/1994, ainda não havia Internet, SMS e e-mail. O uso dos computadores como meios de produção estava então reservado a ambientes ou profissionalíssimos, ou restritivíssimos de umas quaisquer salas de informática nas estruturas mais apetrechadas. Assim, leitura era efectuada de forma quase exclusivamente física, e a escrita, era o frenesim dos dedos e a tensão da mão por vezes em autênticas maratonas de Step-estenográfico.

O texto que mui orgulhosamente produzi, iniciava-se, se a memória está correcta, com a frase:

"O Estado da Educassão em Portugal".

Recordo-me ainda que pelo corpo daquele texto, introduzi circunstancialidades ortográficas afins noutros termos.

Eram tempos de muita vontade de afirmação, frequentemente até em demasia para este corpo, próprios para o quociente idade/circunstância, e - quero confessar - julgava que poderia ganhar um Pulitzer ajudado pela Graça de Aparência. Aí iniciaria a rampa ascendente de actividade política, que me permitira a prazo mais ou menos médio, mudar o mundo para melhor - claro segundo a minha ideia. Tinha então feito todo o filme do resto da minha vida.

Uma vez terminado, o texto, foi submetido à apreciação discreta de duas pessoas de confiança.
Eu não desejava entregar o dito a quem prometido, sem primeiro obter a percepção que ambos teriam com a sua leitura.
O atraso verificou-se. Na obtenção dos ditos feedbacks.
O assunto morria assim que eu o chamava.
O assunto acabou por morrer definitivamente.
A contribuição e o âmbito para a referida publicação caíram.

Tempos depois, talvez um par de meses, V. confessa-me discretamente que D. andava preocupad@ com a minha escrita e com o meu nível cultural. Que tinha encontrado "(..) erros ortográficos inacreditáveis (..)" num texto "qualquer" meu que tinha "achado".
Foi o momento em que a lâmina penetrou sem anestesia no meu almejado Pulitzer.

Aparência tinha-se dignado a bafejar-me com a Sua Graça de tal forma, que Verdade brincou comigo.
O meu Pulitzer ali, assim... tão perto e tão longe. Mas afinal, funcional...

Hoje magoa-me não ter esse texto comigo.
Esse, e muitos perdidos pelas dispersões desagregantes em que a minha Diáspora foi nascendo.

Mesmo sem Internet, SMS, e-mail e afins, Educassão afinal era então já uma palavra!

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