Thursday, October 21, 2004

Crachas (com acento).

Crachás, crachats, badges.

Na lapela, na mochilinha a tiracolo, símbolo do lugar a que as ideias são remetidas. Não mudam. Há mais de 20 anos que são alusivos a "punk's not dead!", The Cure, outros grupos, outras frases de ordem de preferência curtas e grossas. Como as ideias. Curtas e grosseiras.
É assim que se evoca a crise estudantil de 1969, Coimbra fechada a cadeado, incorporações militares à força, um estado fascista em agonia, uma visão única do ensino:

Ensino Para Todos.

Alguém queria mais?
Onde anda hoje o ensino para todos?
No sub-financiamento induzido pelas propinas, que adia mais uma vez o que há de execrável na "Universidade Portuguesa"?
Na ausência de programas de ensino consequentes, de integração no mercado de trabalho efectiva, de uma investigação científica produtiva e sem um mínimo de infra-estruturas estrategicamente delineadas?

Com as borlas e capelos, Chapelescas idiotas que
dizem ao seu utilizador nada mais q'é um doutor?
Certamente para humilde operário que pasma
a ver passar: Vai ali um q'é doutor!
Diz-se a si próprio, fechado na sua praxis.

No meio docente e investigador universitário, é como há 40 anos se encarava o emprego em Portugal:
A Idade traz as Promoções.
O Mais Velho prevalece sobre o Mais novo.
A Cátedra sobre a Assistência.
A Idade sobre a Ideia.
A Praxe.
A Fraude.

Muito provavelmente os (ex)estudantes de universidades de Lisboa, Porto e outras cidades não têm a consciência de que as borlas e os capelos são também ali utilizados, com a respectiva praxis.

É assim que as ideias se reduzem simbolicamente ao mesmo afecto que se tem pelo crachá, de um lado, que do outro, se ironize: São uns poucos!
São todos uns poucos, uns grandes poucos.
Mais poucos ainda, a roçar a bacorice barrasca sarapintada de esterco, são os 24-D que acusam com desdém: São uns poucos que querem fazer carreira política.
Claro, 24-D olha com desdém para a política, para quem opine sobre esta, para quem participe nesta ou para quem simplesmente discorde desta.

Ainda me sinto perplexo! Que mal tem querer ir para a política? Não deveria ser ao contrário?
24-D não participa na política, e alterna a fuga aos impostos com uma actividade filantrópica: uma IPSS, ajuda aos "meninos pobrezinhos" de uma favela onde nunca irá, projectos sociais de enorme importância, sei lá..

Quando vejo que as Faculdades e Departamentos recebem à cabeça por aluno, desproporcionados da oferta de emprego e necessidades reais, que o estado se demite de re-estruturar a Universidade, começando por abolir a praxe académica em toda a pirâmide entre os Assistentes e o Reitor, e, que autorize mais privados no sector, não posso aceitar que se 'cacem' os orçamentos familiares (ou singulares!).

É de facto criticável querer invadir um senado.
Os Portugueses deveriam talvez ir todos estudar para Espanha, até para o Brasil. Ficam assim as universidades por cá vazias, os das Chapelescas de mão dada com as moscas esvoaçantes e os sucessivos governantes que nunca sujaram as mãos no ensino superior, com as limpas dadas aos anteriores.

Todos numa alegre dança, sobre as Universidades vazias, protegidas de invasões, arruaças, descontentamentos, insatisfações... para gáudio de 24-D:
Assim mais ninguém se forma, nem cívica nem culturalmente, nem ninguém tem mais a triste ideia de se "meter na política".

Por isto tudo o mais, ainda bem que de vez em quando há um jovem para passar um dia na esquadra, que haja confrontação à porta de consequências de decisões políticas e fundamentalmente:
Que vão existindo crachás.

Força, miúdo. Dão-te um sistema organizacional em que tens que ser crescido, mas nem sabes onde estás metido.

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