Tuesday, November 16, 2004

Beirute

Não, não, nunca fui a Beirute.

Soube da existência do Líbano ainda em Paris. Virava-se a década do sete para o oito, e na confusão de senegaleses, turcos, tunisinos, iranianos, argelinos, franceses, portugueses, italianos, chineses, japoneses, irlandeses, ingleses, suecos, holandeses e alemães, de cada qual tenho a Memória do nome, conheci duas Libanesas cujo nome não me recordo. Foi a minha primeira associação ao Líbano, petrificada na minha memória pelo carinho que aquelas duas irradiavam sobre o ser pequeno de seis anos recém-completos.
Sorrisos daqueles, vemos poucos ao longo dos anos, pelo que marcam.

Durante o Mundial-82, em Espanha, entre o Naranjito e o Zico, mais tarde a torcer pelo Platini contra os Italianos, vejo um telejornal.
Beirute.
Aviões Israelitas deitam bolas de fogo, parecem foguetes lá no alto. De imediato as imagens mudam para filas de crianças da minha idade a chorar, prédios a derrocar, paredes a tombar e aquelas crianças e as suas mães, sempre a chorar.
Nunca me esqueci de Beirute.
Desde aquele telejornal, os Israelitas bombardeiam aqueles sorrisos memoráveis que guardei até hoje de Paris.

Hoje, mesmo depois de ter lido "Media Control - The Spectacular Achievments of Propaganda" ainda não me conformo quando afinal o que eu vi foram crianças a chorar com os bombardeamentos, e Israel na eterna vitamização que explora imoralmente até à medula, herança de fornos enormes e chuveiros que não deitavam água.

Dizia o outro, que antes de se ser Cristão, é-se Judeu. O Velho testamento é o mesmo. O Novo é um acrescento, com a consequente amplificação do espectro de interpretações. Moisés, é tão Judeu como Cristão, é tão deles como meu, que aqui nascido nesta teia cultural, não fui à Pia. Por alguma razão se fala em Judaico-Cristianismo.

Ainda hoje, aqueles aviões Israelitas bombardeia-me aqueles sorrisos.
Sabra e Chatila ficavam no Líbano. Os que lá morreram não eram de lá.
Arafat andava em Beirute. Mas também não era de lá.

O Povo Judeu, fala na sua Diáspora milenar. Nós os Portugueses, muito devemos a essa mesma Diáspora, embora a tendo maltratado, esta diluiu-se em nós e de alguma forma contribui para o que somos, para bem e para mal. Tendo em conta toda a burguesia Judaica, Espinosas e afins, considero hoje os Judeus como um povo em quase tudo europeu.

Mas hoje, em Diáspora, estão os Palestinos expulsos das suas terras após a chegada "daqueles europeus" depois daquela guerra que eles lá fizeram.
Hoje em Diáspora estão os Libaneses, de Libreville a Lisboa, de Paris a Los Angeles. Por causa daqueles "europeus".

O Israel de hoje em dia, é muito distante da glória de David ou da justiça de Salomão.
Assemelha-se mais à corrupção de Heródes, e à catástrofe da Libéria. O dinheiro artificialmente lá injectado e a noção de justiça faz com que todos os restantes sejam Os Outros na sua casa.
Os Europeus, a mal ou a bem, esses, conseguiram destruir um Muro. E vão destruindo mais Muros entre eles.
Aqueles "europeus", vão construindo a mãe de todos os Muros, as prisões de todas as prisões.
La vitimization oblige!

Em Beirute aqueles aviões bombardearam aqueles sorrisos de que nunca me esquecerei.
Em Beirute, aquele Mário passou o Cerco, o Muro.
Em Beirute, o mundo conheceu Arafat.

Fica bem!

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