Thursday, September 28, 2006

Pescada à Braz

"WWF diz que alguns dos pratos de peixe mais populares na Europa resultam da pesca ilegal"
27.09.2006 - 20h34 PUBLICO.PT

Reza o artigo acima indicado que segundo a WWL, diversas espécies pescadas se encontram severamente ameaçadas, incluindo o nosso bacalhau, e alerta os consumidores para a necessidade de praticar a objecção de consciência nas suas compras.
(...)
“A melhor forma para os consumidores identificarem os peixes e mariscos pescados de forma responsável é através do rótulo Marine Stewardship".
(...)

O artigo publicado, refere também que "No caso da solha (Pleuronectes platessa), cerca de 80 por cento de algumas capturas no Mar do Norte são rejeitadas borda fora (...)".Isto suscita diversas questões de rigor, ora vejamos: estes "algumas" são umas, muitas, umas poucas, montes, "bués", ou afinal quantas - em absoluto e relativas - das capturas efectuadas no Mar do Norte se traduzem nesta prática que desde já condeno?
Logo no segundo caso, o artigo refere a captura involuntária de tubarões na pesca do espadarte, e "A WWF estima que morram cem mil destes animais todos os anos". Esta estimativa já de muitos tubarões, aliás "bué" deles, já que atiram para o ar cem mil: em estimativa.
Os casos relativos a algumas espécies sucedem-se ao longo do artigo, onde o bacalhau é alvo de atenção, sem estimativas nem algumas indicações: Ora refere que “não haverá mais bacalhau do Atlântico [Gadus morhua] dentro de 15 anos” se se verificar o mesmo declínio na "captura total de bacalhau" verificado nos "últimos 30 anos". Lá por apreender menos droga, não quer dizer que haja menos droga na rua...

Cada parágrafo deste artigo é mais rico em dogma, propaganda e chantagem emocional, camuflados sob a forma daquilo a que a engenharia social denomina de "Sensibilização", do que efectivamente em dados científicos de rigor assinalável. Até o posso aceitar - dada a relevância do assunto objecto - que seja efectuada uma "sensibilização" desta natureza, mas uma visita ao website do Marine Stewardship Council (MSC, não tem versão em Português), é reveladora:
Como consumidor fui verificar "Where to Buy" onde encontrei a lista de produtos certificados pela organização, à venda em Portugal.

Parece-me que a Iglo, e a outra marca que vende "merluza" pertencem às tais grandes empresas pesqueiras europeias, a primeira como é do conhecimento geral, e a segunda é espanhola - a frota pesqueira de nuestros hermanos é a maior da europa e uma das maiores do mundo.
Assim, a propria MSC revela-se contraditória: Com tantos "bués", "algums", "muitos" e "estimativas" de "cem mil", só nos recomenda a compra de peixe aos grandes "tubarões" europeus do sector, coisa que acho muito estranho - pois julgo que a MSC nunca terá ido às lotas de Sesimbra ou Peniche, entre outras, para nos dizer que comprar peixe congelado à malta dos Navios-Fábrica, é melhor do que o proveniente da Faina... estranho.

ACUSO esta gente da WWF e da MSC de viver exclusivamente dos insípidos e mal-cheirosos "Fish & Chips" ingleses, Mc Fish's ou barrinhas de peixe industrial para fritar e porcarias assim, se não forem exclusivamente vegans ou vegetarianos.

Não foi para isto que Prometeu roubou o fogo para o dar aos Homens, incendiando a eterna busca pelo conhecimento e pela arte dos ofícios.
Nem para que ficassem à mercê destes novos evangelizadores de meia-tijela que me querem a comer Pescada com Batatas ao Murro, Pescada à Zé do Pipo, Pescada à Gomes de Sá ou até Pescada à Braz..

Tuesday, September 26, 2006

Fogos

Uma crise de Agnosticismo Temporariamente Permanente

"Eu honrar a ti? Por quê?
Livraste a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?"

"Prometheus", Goethe, 1774

São Fogos, estes, os que permitem a ultrapassagem de momentos de crise, que permitem vislumbres de soluções em questões vitais, que transmitem a sagacidade de que se alimenta a produção mental, a visão estratégica, o ardor do plot, são Fogos, estes que incendeiam a fornalha das ideias, onde se fundem e se forjam as estruturas sobre as quais nos aplicamos em tempos seguintes.

São Fogos, estes que todos temos dentro de nós, é a nossa herança de Prometeu, pois somos todos prometeus, que se lixe deus - desculpa lá, és útil às vezes, mas.. nós homens temos dentro de nós, Fogos!...

Tuesday, September 19, 2006

Abstracções

... ou formas de libertação.

Wednesday, September 13, 2006

A Fuga de Deus

Se uma existência humana se resumisse a um trajecto delineado por um tubo de gás, Deus - na assunção da sua existência - teria que se tornar num canalizador exímio e psicologicamente preparado para lidar com a derrota frequente.

Entre a botija e o forno, como quem diz entre a Criação e o Juízo Final, o trajecto é coberto de fugas, e o Arquitecto vê-se reduzido à função de um tapa-furos aleatório justificando-se - e vitimizando-se - com a traição de Lúcifer. Afinal se um é Arquitecto, o outro será Engenheiro - como é do senso comum - pois um desenha e o outro supervisiona a Obra.

Ora se a nossa existência pode ser metaforizada pelo trajecto de A a B num tubo de gás, e se assumirmos que Deus existe e é o Arquitecto, então não passamos mais do que uma Fuga de Deus.

Tuesday, September 12, 2006

Im-puta-ção

A responsabilidade é um termo forte, esplendoroso em peso e medida.
É ponto de partida tanto para prisões como para fugas, pois dentro dela aprisiona-se uma mente que eventualmente resolve pontapear as portas e evadir-se.

Quando se "im-puta", faz-se pesar, e como as leis da física demonstram, por cada força que exerça uma acção num sentido, haverá uma equivalente mas simétrica.

Esta simetria existe dentro de nós.
Quanto mais temos de uma coisa, mais nos apetece - eventualmente - outra coisa.

Por isso não acredito em nenhuma das "boas meninas" ou dos "bons rapazes" que por aí andam.
Por isso desconfio de gente que se diz séria.
Por isso tenho relutância às intensas palavras soltas num momento especial.

Pois se por cada força num sentido, existirá - eventualmente - a sua simétrica, tenho muito medo de um "amo-te" antes de tempo, de um "será muito" antes de "pouco" ter acontecido e pavor de uma jura de pertença indubitável quando ainda nem saboreei o gosto daquilo que é meu.

Quando há "im-puta-ção", tem-se destas coisas. São significados que com leveza são atirados ao ar na sua verdade do momento, mas cujos ecos que provocam podem ser pesados.
Se a generalidade das pessoas são leves na "im-puta-ção" do que atiram para o ar, poucas são aquelas podem fazer prevalecer o que é belo.
Porque o belo, esse, também se Im-PUTA.

Thursday, September 07, 2006

Exílios.

Há ideias que chegam ao que aparenta ser um final. Um final cujo saco-de-significados pareceu que se esgotou, como um núcleo de motivações que desaparece tão naturalmente como surgiu, afinal, podendo representar um exílio ao próprio exílio que as materialize.

Estas Diásporas da mente, nunca desaparecem, transformam-se noutras atenções, noutros disparos, noutras deambulações por outras paragens, quer internas, quer circunstanciais.

Por isso é que a convicção de que os Finais podem afinal representar Inícios, nunca me abandona.
É também por isto que nem os próprios Exílios estão à margem de se exilarem de si próprios.