Sunday, December 19, 2004

O Rei está morto. Viva o Rei!

O 25 de Abril está morto. Viva a Esquerda!

Thursday, December 09, 2004

Imaturos em Incubadoras

ou, Morais Segmentos (II)

No meio do ruído - não comunicação - estridente que têm feito alguns dos membros deste governo, pelo que na pele sentem do Despedimento Colectivo por Justa Causa, teria que obviamente surgir, o Teórico.
O Teórico, de moralidades segmentadas e dispersas ao sabor daqueles vaipes que lhe dão em determinadas circunstâncias, vem classificar a decisão do Despedimento, como de imatura.
Não será certamente em idade, pois de consistência o Teórico será bem mais jovem: tese que tem a sustentação do seu Croupier-mor, que deu a mão da "incubadora" e do eterno Dodot em que se revê quando as coisas correm mal.
Certamente que será tão jovem e imberbe, que não se recordará de outros governos caídos, pontualmente, é certo, pela Europa nos últimos decénios. Desde a Itália, cuja "horrível instabilidade" (aos olhos destes Teóricos) não a impede de ser integrante do G7 (ou G8, ou G1 & Partners), ou até de outros exemplos noutros países europeu, por motivos diversos. O que também é de assinalar, é o timming fantástico que o Teórico escolheu, já que incidiu na altura mais tranquila, monótona, pastosa e aborrecida da política nacional, para berrar de lá do fundo da sua incubadora.
Como se não bastasse, ainda se desdisse, como um miúdo a discutir num jogo das escondidas:
"Eu vi-te!"
"Não, não! Não me viste!"
"Vi-te sim!"
"Não me viste! O que viste foi o reflexo do sol naquele carro, que fez sombra sobre aquele senhor à janela, que foi projectada sobre a calçada e fez-te pensar, com a tua miopia e estrabismo, que me viste!"

Além de redundante é inconsequente?
Não. Não só apenas é repetitivo, como também está na "incubadora" deste tipo de mentalidade e postura de quem pensa que pode teorizar por dá cá aquela palha.
Por isto mesmo, é mais um exemplo de moralidades dispersas ao acaso, sem relação, método ou principio, meio e fim: São mais Morais Segmentos.
A tese da incubadora, reveste-se então de toda a razão: A incubadora é para os imaturos, e de facto é cedo para se lhes dar estaladas.
É sim tempo de manda-los para casa, e ver se por lá pela casa deles, alguém lhes dá educação.
Pê.

Mentalidades

Por vezes há imagens que chocam, quadros que nos tocam ou situações que nos marcam.
A força desse choque, toque ou dessa marca, é directamente proporcional ao que de alienígena reveste o que observamos. Mas também o pode ser, relativamente à recorrência de que nos apercebemos existir, num insight inesperado, de uma imagem, de um quadro ou de uma situação.
No metro, hoje, tive uma vivência destas.
Ao observar um indivíduo a dialogar com o vazio, apercebi-me de que quase todos os dias observo alguém a falar sozinho pelas ruas de Lisboa, principalmente no metro.
Confidencio que é um quadro que me assusta, não por ter medo de "malucos" ou "desequilibrados", mas pela frequência com que os observo e pela ideia que me dá, que quando aquela ténue linha entre sanidade e a insanidade é transposta, a solidão parece ser absoluta.
É um quadro que também me preocupa. Suponho que teremos todos os nossos pequenos desequilíbrios, depressões, paranóias, traços disto e daquilo.. mas quando se começa a observar quase todos os dias pessoas que falam sozinhas na via ou transportes públicos, numa época em que há dias para tudo, para o HIV, Cancro, contra isto e contra aquilo, vítimas de tal e de tal ou a favor de W e de Z, estes parecem-me os esquecidos, e os que sofrem de conjunturas menos visíveis forçam-se por se esquecerem a si próprios.
Principalmente porque as suas particularidades daqueles, assim visíveis, escondem nos restantes rostos anónimos que observamos nos mesmos locais, as depressões, manias e dependências múltiplas (álcool, drogas, anti-depressivos, comprimidos ou outras), para não mencionar as que não conheço nem faço ideia.
A vergonha e a escravatura sob Aparência, inibem algo tão simples como um pedido de ajuda, que não é facilitado pelas mentalidades que rodeiam os meandros dos hábitos de saúde.
É preocupante observar que com tantas IPSS's proliferantes por este país, com tantos programas de apoio a serem desenvolvidos em tantas direcções, uma tão crucial - a da Saúde Mental - seja varrida para debaixo dos tapetes onde caminhamos exibindo forçadamente as marcas de perfeição que caracterizam um estilo de vida aceitável no imaginário comum.
Uma cultura social que dê a atenção e resposta eficaz às necessidades da Saúde Mental, não só tira da solidão esta gente cujo mundo colide com o nosso pudor, como também, talvez, contribua para a prevenção de muitos dos outros problemas que nos afectam como um todo, entre eles, a criminalidade violenta, violência doméstica, crimes sexuais, etc.
É mais uma vez triste, verificar que tal como "a SIDA é só para os outros", a doença mental, seja ela de que âmbito for, também o parece ser.
Apenas parece.
Empiricamente, tenho a certeza que a verdade íntima e obscura é outra, e se pudesse coligir incidências talvez esses Dias Internacionais Das Coisas Esquecidas (prevenção rodoviária, tabaco, mulher, violência doméstica, paz, criança e afins) passassem todos para segundo plano, face às estatísticas macabras que porventura se apresentassem.
Dá-me ideia que o mundo da Doença Mental, é talvez todos os mundos, o mais solitário. Seja pelo enclausuramento ou perda da consciência, pela vergonha e escravatura da Aparência ou pela simples inexistência de uma mão que ajude e conforte.
E na TV, não vejo uma sequer referência, anúncios ou campanhas sobre estas muitas Pessoas que Falam Sozinhas na Rua.
Humanitários?
Onde andam os pios personagens das causas humanitárias?
Onde? Como se escreve?
Pê.

Monday, December 06, 2004

Bocas

“A Língua é o primeiro dos nossos afectos (...)” entrou-me pela paz e quietude de Fringes adentro com o anuncio de Fátima Campos Ferreira no âmbito do seu próximo Prós e Contras.
Pois é bem verdade, e não poderia estar mais correcta, FCF, ao afirma-lo.
Se-lo-á na medida das paixões de cada um, em que cada qual coloca a boca onde mais gosta revelando assim as suas expressões de paixão que, sendo mais ou menos obscuras e venham de onde vierem, serão sempre honestas.
Isto da boca ir à paixão, ou do objecto de paixão ser levado à boca, é uma questão de referenciais, sempre relativos ao método de observação.
Como povo, gostamos muito das denominadas “bocas”, por tudo e por nada, e o meio de excelência desta expressão, entre nós, é o futebol.
A bola, por cá, arrasa pazes, contradiz paixões, transfigura personalidades, elege e destitui desígnios com uma rapidez tão impressionante quanto a facilidade com que se processa.
Num momento, é-se rei, herói ou referência, e no outro, um vulgar criminoso, miserável e odioso.
Pinto da Costa, quer se goste, quer não se goste, é uma referência na nossa cultura do “por a boca”. Seja em trombones, seja sob a forma de dedos em feridas, PC sempre elegeu a palavra, produto directo da boca, como o seu meio privilegiado de defesa, numa mestria estratégica em que transformou num meio de ataque tão eficaz como gélido nos resultados que apresenta, principalmente desde aquele já distante episódio determinante do WC das Antas.
É assim que vejo no dia da notícia da sua detenção habilmente evitada, uma jovem adepta loira, bonita, de sotaque próprio, a defender na Televisão que o envolvimento de PC nas investigações denominadas Apito Dourado, se deve ao facto do FCP ter passado a liderar a tabela classificativa. Revelou evidentemente como a boca se cola ao hábito. E não querendo questionar a moralidade dos hábitos da dita da jovem, cabe-me no entanto com perplexidade, referenciar aqui esta observação: A facilidade com que no hábito, mesmo quando o FCP não precisa de se comparar com os rivais, as bocas obedecem à trilha da usualidade vitimista.
Parece algo que está na moda nos dias de hoje, disfarçar inaptidões ou podres com a recorrência à vitimização mesmo que desnecessariamente. Será que afinal a vítima está na moda, e que nos tornaremos, mais dia menos dia, numa sociedade de vítimas sempre a mandar bocas?
Sendo a língua o primeiro dos nossos afectos, segundo FCF, a boca é o seu primeiro veículo. E de uma personalidade recheada de bocas no seu curriculum como PC, não será de forma alguma de espantar que se lhe descubram hábitos secretos e menos virtuosos. O mesmo aconteceu a outros dirigentes entretanto revelados como os seus arqui-inimigos (coincidência de proximidade?), pelo livro que PC editou denominado com tal antítese que não poderá deixar de ser mais uma boca: o título “Largos dias têm cem anos” é tão etéreo e de um naif pró-poético de tal forma doloroso, que se contradiz diletantemente e com as características vorazes, destruidoras e impiedosas da carreira do Átila do desporto profissional português, como atestarão as suas conquistas intensivamente descritas no editado.
Se levarmos a sério a frase de FCF, concluímos que a boca é o primeiro veículo da expressão da nossa paixão. Mas também, se se levar a sério o presente caso de PC, torna-se em lei universal o sábio provérbio popular:
Pela boca morre o peixe.
Veremos.
Pê.

Zonas

Há zonas onde o pensamento vai em que a distinção entre o valor e o vazio é quase inexistente. Campos onde a razão se confunde com a sensação e em que ambas se encontram dispersas, amalgamadas uma na outra. Áreas onde pequenas vontades surgem, pequenas estratégias são elaboradas, pequenas satisfações são obtidas e a soma destas sucessões de acontecimentos sem pressa, sem pressão, nem avaliação ou juízo algum, fundamentam uma coesão assaz interessante lá no fundo de nós, onde as coisas importantes se definem. Esta coesão poderia dar pelo nome de paz, se não comportasse também as suas guerrilhas deliciosas.
Esta coesão poderia também dar pelo nome de serenidade, se naquela zona também não existissem os tumultos próprios dos fulgores de paixões.
Há zonas onde tomar uma decisão de fundo, elaborar uma estratégia vital ou saborear um Pão de Mafra podem ter o mesmo sabor, como podem não ter.
Há campos onde Aparência pode contar mas não serve efectivamente para nada.
Há sítios de onde os acontecimentos que fluem são observados à distância, onde não há partido, clube, estrato nem deveres e direitos inerentes têm lugar à existência que não decidamos que existam.
Lugares onde quem escreveu, desenhou ou criou fosse o que fosse, não ultrapassa o valor do seu resultado.
Há zonas onde a sensação vai, e o “coolness” de uma actividade não é induzido, pré fabricado ou concebido.
Há zonas onde a ideia de hora de ponta passa absolutamente à margem da sensação e da razão.
Uma dessas zonas, é Fringes.

Friday, December 03, 2004

Bloco de Estrada

Há algum tempo que não visitava o Sítio oficial do Bloco de Esquerda, confesso que por um misto de desinteresse apático e visceral por "cassetes", sejam quais forem, e de tempo efectivo para o fazer.
Depois de deixar que o applet se iniciasse (desagradam-me sempre estes javazinhos quando não se percebem muito bem para que servem, e que gastam RAM e recursos do CPU), reparei em algo digno de nota aqui.
De volta à página, desta vez com o Firefox que se dá melhor com javinhas do que o Safari, volto a olhar para a Campanha contra o fim das Scut's.
Confesso que passei 30 anos da minha vida sem conduzir, a utilizar transportes públicos e só agora estou prestes a entrar na liberdade cómoda da automobilidade.
Pode ser uma perspectiva condicionante é certo. Mas não me parece justo, que por cada vez que pague um IVA contribua para alguém andar comodamente numa estrada que teve que ser construída com recurso a project finance.
É certo que por cada auto-estrada e via reservada ou equiparada a auto-estrada que seja alvo de tal investimento, deverá existir alternativa viável para o trânsito regional.
Mas não é certo que me saquem os dinheiro dos impostos para outros curtirem a comodidade, como se da compra de uma casa para outros habitarem se tratasse, com recurso ao orçamento de estado.
Ainda dentro do âmbito da esquerda, onde estará a noção da distribuição de riqueza nesta posição do Bloco?
Da mesma forma que Lisboa e Porto, para não mencionar outras cidades, deveriam ter a entrada de automóveis particulares taxada da mesma forma que o "Red" Ken aplicou com sucesso em Londres, defendo o mesmo para as viagens por auto-estrada: São só para quem pode.
Este estado de dimensão do automóvel particular na vida do dia-a-dia sabemos todos que é presentemente insustentável por várias razões, quer de natureza ecológicas e energéticas quer de ordenamento.
Sempre fui um defensor irredutível do comboio como meio de transporte de carga e de pessoas, não há nada a fazer..
Mas o que quer este bloco, composto por uma esquerda-chic já muito habituada ao automóvel para tudo, com esta campanha?
Que se continue a pagar as auto-estradas com o dinheiro de todos os contribuintes, em benefício dos utilizadores?
Argumentar-me-iam com os efeitos nas empresas e negócios, quando o papelinho da portagem é contabilizado para efeitos fiscais?
Argumentar-me-iam com a ausência de determinados percursos alternativos de via pública decente, então porque uma campanha tão genérica que não menciona em nada essas carências?
É mais uma Aparência distante da substância, perigosamente sustentada na ideia de que "a esquerda é que sabe o que é justo para os seres humanos".
Ora, até concebo e poderei eventualmente concordar que a esquerda se auto-proclame como a guardiã da liberdade, o que não concebo são aproximações populistas e descaradamente mentirosas à caça do voto descontente, por mais apelativos e originais que sejam os grafismos e as campanhas.

Mas enfim... todo e qualquer militante do BE lá deve ser bem mais inteligente do que eu...
Pê.

Fronteiras Marginais

Quem se desloque ao Sítio oficial do Partido Socialista, depara-se com um rectângulo com dois cantos curvos. Esta semelhança com o logotipo da TVI, parece-me efectivamente casual, mas nunca inocente.
É a entrada do "período socrático" do PS, que já visualmente toca num qualquer e obscuro neurónio do inconsciente condicionável, pela associação anteriormente descrita.
É a ascensão definitiva do PS à conquista da Aparência, como meio e fim, após a introdução desta como método por Guterres nos idos de 1995.
Pode-se adivinhar que o veludo épico de Vangelis de meios-homens dialogantes, cederá o espaço a um humanismo estridente-quase-histérico socrático numa salada de frutas digna da TVI.
Estou absolutamente convicto de que a noção de "moeda má", não visa única e exclusivamente Santana, mas sim também o seu antigo companheiro de comentários de serviço.
Esta nova geração socialista, "fracturante" na embalagem, foi angariada ao som de Nirvana em Espaços + na 24 de Julho, à boleia dos Estados Gerais, e durante a caminhada triunfal de 1995 tal como durante os anos posteriores pelo mel do poder. Para não mencionar "Ruinas" que decerto não existiram exclusivamente no Estoril.
Este rosto socrático que se dá ao PS, é um paralelismo tão preocupante como a senda de Narciso de Santana, se não o for ainda mais por causa da Aparência de esquerda que o tinge.
Algumas diferenças certamente que se sobrepõem: as teias de cumplicidades estarão muito mais sólidas, e de certeza que alguns históricos socialistas não serão tão críticos como os seus equivalentes PSD.
Mas este cheirinho a TVI é preocupante.
Soa-me a mais do mesmo, da mesma moeda outra face, e o que me assusta é a falta de coesão pedagógica no relacionamento com o eleitorado. A pedagogia necessária à política não se reduz a citações e referências sortidas e ao acaso de ilustres pensadores já há muito idos, mas sim com uma efectiva elucidação junto do eleitor num exercício transparente de fundamentações e intenções.
Estas "Novas Fronteiras" soam a mais do mesmo em clonagem defeituosa dos Estados Gerais: Uma Aparência a ser imediatamente descartada com uma tomada de posse.
Assim, o período socrático pede, sem qualquer credibilidade, que se gastem de novo energias mentais a participar num fórum, quando do anterior, os resultados ainda hoje são aplicáveis.
Sócrates deveria, se fosse uma personalidade pouco dada ás Aparências e que estimasse substância nos seus objectivos, primeiro que tudo:
- Explicar transparentemente o que aconteceu aos resultados dos Estados Gerais;
- Explicar como é que não acontecerá o mesmo desta vez;
- Explicar porque não deveríamos desconfiar.
Como isto não irá acontecer, e como este fórum não passará de uma versão em adulto-adolescente de Espaços + salpicada de excepções aqui e ali, terá tudo a haver com a semelhança casual de Aparência cuja descrição iniciou este post.
As "Novas Fronteiras" de Sócrates, serão em substância e na distância que o separa de Santana, meras Fronteiras Marginais.

Despedimentos

Estabilidade
do Lat. stabilitate
s. f.,
qualidade de estável;
constância;
persistência;
permanência;
firmeza;
segurança;
solidez.

A noção de estabilidade é algo que nesta semana que finda, faz todo o sentido abordar. Julgo pertinente seccionar as perspectivas de estabilidade em duas distintas.
Uma primeira, relaciona o conceito com a imutabilidade, constância, firmeza e afins, de forma directa e simplista. Neste caso, estabilidade significará a manutenção de um estado de coisas num sistema, mesmo que erros persistam e hábitos descabidos se perpetuem.
Numa segunda perspectiva, será o funcionamento dinâmico das variáveis de um sistema, previamente regulamentadas pelos fundamentos deste.

Numa curta observação retrospectiva, a presença da palavra estabilidade no diálogo político português surge com recorrência como argumentação da direita contra a esquerda. Desde a segunda metade dos anos 80, a palavra instabilidade surge por inerência no apelo ao voto contra a esquerda. O mesmo aconteceu nas eleições de 1995, pelos vistos infrutiferamente. Nestes últimos quatro meses, a palavra regressou novamente, de ambos os sectores, embora com ligeirezas diferentes. Mas afinal que estabilidade é esta com que determinados agentes insistem?

A primeira perspectiva é a mais fácil, portanto, a que tem mais probabilidades Aparentes de se propagar na "massa eleitoral". A ideia de que umas eleições legislativas devem sancionar custe o que custar uma determinada maioria até ao fim do mandato é assim veiculada como definição de estabilidade.
A segunda perspectiva, é a mais difícil, já que carece de maior análise e exercício mental por parte de cada indivíduo desta dita "massa eleitoral", que recorrente e predominantemente foge da matemática, quanto mais de avaliar e correlacionar variáveis que interfiram nos seus destinos.

A primeira ideia, é por exemplo, a que parcialmente sancionou um Mobutu que garantiu cerca de três décadas de "estabilidade" no país que descendeu do antigo Congo Belga. É também a que serviu para legitimar em Aparência um Suharto, aos olhos dos Australianos. Os exemplos, seriam infindáveis.
Foi com esta primeira ideia de estabilidade que Santana Lopes desde cedo chamou a si uma pretensa legitimidade para governar, após ter sido escolhido através de tricas de corte modernas. Foi ainda no âmbito desta primeira ideia, com que Sampaio deu a sua anuência a Santana, mas que trazia em attachment a estratégia de deixa-lo percorrer o caminho de Narciso e definhar na vingança de Eco através de Némesis.
Aqui, vemos um pouco mais do que Aparência.
Pode-se sem dúvida afirmar que a noção de estabilidade, como qualquer conceito criado pelos humanos, não está acima das estratégias de poder que estes desenrolam. Por isto mesmo o sistema, através da constituição, partilha poderes e investe responsabilidades. Recordemos um governo que caiu na Holanda, recentemente, e ninguém se atreve a classificar aquele país de instável. A estabilidade dinâmica, por princípio, comporta a chamada dos decisores (eleitores) para decisões (eleições), sempre que os mecanismos consagrados o accionem. Esta dinâmica demonstra que afinal em Portugal já há política madura, goste-se dos protagonistas ou não, mas demonstra principalmente que a linha entre uma estabilidade à Mobutu e uma ideia madura ainda é muito ténue nas mentes portuguesas.

Sampaio soube com diligência segurar-se na segunda ideia de estabilidade para desenvolver a sua agenda política, sob os auspícios de uma Aparência marginalmente aceitável e acoplada à primeira ideia, mas sem dúvida muito mais habilidosa que a do estridente Santana. São efectivamente fibras diferentes, as de um que visualiza a estabilidade de forma dinâmica, e as de outro que se assenta exclusivamente em Aparência.

Para mim, uma convocação de eleições é sempre um sinal de estabilidade e maturidade democrática. Seja quantas vezes forem precisas. O contrário é que levantaria sempre dúvidas e interrogações, e me faria sentir mais próximo da "estabilidade" do Zaire de Mobutu.

Resta pesar o facto da estratégia de Sampaio ter saído cara aos contribuintes e à paciência de muitos Portugueses, demasiado cara para o que resultou num mero e há muito adivinhado Despedimento Colectivo por Justa Causa.