Thursday, November 09, 2006

Pare, escute e olhe...

.. quer em movimento sensível, quer em movimento relativo.

Ao andar de comboio, vejo-me e revejo-me em diversos tempos, diferentes no ser, diferentes na forma como os olho.

Reparo na pequena passagem de nível que foi "modernizada", na ponte nova, nos novos troços de sensação mais "lisa", nesta carruagem "Corail/UIC" francesa dos anos 60/70 que entraram em serviço pela CP em 1986 após após os choques das colisões de Santa Iria e de Paço D'Arcos, anunciada então como "modernas", e exploradas pelo serviço "alfa" e posteriormente pelos inter-cidades.
Não sou nenhuma autoridade em matéria de transportes ferroviários, mas conservo comigo ainda o meu primeiro conjunto de comboios à escala H0, datado de 1981. Conservo ainda comigo grande parte do que lhe fui acrescentando ao longo dos tempos, e fundamentalmente, conservo muitos dos catálogos que coleccionava - miragens de sonho para uma criança e mais tarde adolescente, cujas liberdades financeiras e de "aquisição de quereres" eram limitadas. Nestes catálogos, bem como nas recordações dos comboios franceses dos meus 5, 6, 7, 8, 9, 10 anos, as carruagens "Corail" encontram-se bem enraizadas: Lançadas em serviço nos anos 60 em França - construídas pela Alsthom, revolucionaram o conceito e velocidade da ferrovia convencional, velocidade máxima então: 220 km/h.

Neste inter-cidades em direcção ao Norte, exacto, não é alfa-pendulino, as velocidades nos troços "modernizados" alcançam valores redondamente próximos destes dos anos 60 da França pré-TGV: 180km/h. Opto por não pagar o excedente fraudulento de luxo cobrado no pendulino português, pois cada unidade custou ao erário público perto dos então 11 (onze) milhões de contos. Este viaja à mesma velocidade que o presente: excepto durante uns míseros 15 minutos de troço entre Porto em Lisboa durante os quais- e muito bem - o pendulino alcança os 200 e tal KM/H. Mais números? Muito bem:

1994, Lisboa St.ª Apolónia - Coimbra-B:
Inter-regional, duração de viagem: perto das 2:20 horas;
Intercidades, duração de viagem: 2:10 horas;
Alfa: 2:05 horas;

2006, Lisboa St.ª Apolónia - Coimbra -B:
Inter-regional, duração de viagem: ???
Intercidades, duração de viagem: 2.15 horas;
Alfa (agora pendular): 1:52 horas;

Se o leitor tem dificuldade em interpretar estes dados, paciência, o problema é seu: Cultive-se, regresse à escola, repense-se, ignore, ou faça o que quiser já que é o inquestionável rei do seu vastíssimo e interessantíssimo mundo. Mas deixe-me em paz e aos que de facto compreendem umas simples linhas, com uns dados muito simples de comparação prática e efectiva no mundo real.

O que é de facto importante é uma pergunta que me persegue de há uns tempos para cá: "Do Androids Dream of Electric Sheep?". Como quem se pergunta: sonharão os andróides com carneirinhos eléctricos?

Outra pergunta que me persegue, não menos sinistra... que caminhos terá a ciência e a técnica sob interpretações abusivas como uma que recentemente vi efectuada pelo editorial da revista Xis do Público?

As pressões para a formatação do conhecimento, do saber, da visão e da sensação... sucedem-se a um ritmo assustador, pois a soma dos múltiplos vazios que por aí não escassam com as perspectivas evangelizadoras sustentadas por uma ciência-de-conviniência começam a tomar proporções assustadoras.

Fico-me por este ligeiro balancear desta zona de travessas de betão e aço, de carris soldados mas não calibrados, que me recordam o charme nauseabundo das carruagens Sorefame do tempo da guerra colonial.... tento dormir, mas não posso.

Paisagens há muito conhecidas sucedem-se pela janela, Coimbra está à porta, sensação de múltiplas sensações ambivalentes... mas distante e saudosamente agradáveis tocam-me com a nostalgia do orgulho de ver a Alta e a Universidade.. lá sobranceira e vetusta sobre o rio, um dos dois únicos na génese de ninfas Portuguesas além das Tágides: as Mondeguinas..

Do Androids Dream of Electric Sheep?

Veremos..

0 Comments:

Post a Comment

<< Home