Tuesday, September 12, 2006

Im-puta-ção

A responsabilidade é um termo forte, esplendoroso em peso e medida.
É ponto de partida tanto para prisões como para fugas, pois dentro dela aprisiona-se uma mente que eventualmente resolve pontapear as portas e evadir-se.

Quando se "im-puta", faz-se pesar, e como as leis da física demonstram, por cada força que exerça uma acção num sentido, haverá uma equivalente mas simétrica.

Esta simetria existe dentro de nós.
Quanto mais temos de uma coisa, mais nos apetece - eventualmente - outra coisa.

Por isso não acredito em nenhuma das "boas meninas" ou dos "bons rapazes" que por aí andam.
Por isso desconfio de gente que se diz séria.
Por isso tenho relutância às intensas palavras soltas num momento especial.

Pois se por cada força num sentido, existirá - eventualmente - a sua simétrica, tenho muito medo de um "amo-te" antes de tempo, de um "será muito" antes de "pouco" ter acontecido e pavor de uma jura de pertença indubitável quando ainda nem saboreei o gosto daquilo que é meu.

Quando há "im-puta-ção", tem-se destas coisas. São significados que com leveza são atirados ao ar na sua verdade do momento, mas cujos ecos que provocam podem ser pesados.
Se a generalidade das pessoas são leves na "im-puta-ção" do que atiram para o ar, poucas são aquelas podem fazer prevalecer o que é belo.
Porque o belo, esse, também se Im-PUTA.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Em primeiro lugar, boa a sua volta!

Varias idéias me vieram à cabeça ao ler seu post, e me deu vontade de falar de algumas delas aqui, sem pretender discuti-lo, ou completa-lo, note bem!

Primeiro pensei no modelo vigente de masculinidade, mantido pelo homem porque lhe proporciona poder, autonomia, força, e que ao mesmo tempo o massacra com sua “racionalidade” provocando a repressão das emoções. Muitos homens parecem ter o “coração de pedra” por terem justamente assumido esse modelo social que os atrofia emocionalmente e lhes ensina desde pequenos a não exteriorizar sua dor ou sentimentos em nome de uma suposta força.
Sabemos todos desse perfil estereotipado que apresenta os homens como ativos, fortes, capazes do trabalho físico árduo, produtivos, competitivos e sempre prontos para combater em guerras e penetrar o corpo de uma mulher. Com esses papéis pré-determinados, só lhes resta desprenderem-se de uma “qualidade” identificada como estritamente feminina: a expressão da sensibilidade (devo dizer que há uma licença poética dada aos poetas, escritores e artistas; esses não são levados muito a sério num mundo em que os homens lutam para ver quem é o mais forte e audaz, o mais hábil e valente, o mais capaz de desafiar as normas estabelecidas, e são usados convenientemente como válvula de escape para exteriorizar sentimentos e emoções, aceitos nessas condições pela sociedade).
Ainda que não a pratiquem em sua totalidade, a maioria dos homens é cúmplice em sustentar esse modelo de masculinidade, que acaba por desenvolver uma atitude antagônica em relação às mulheres, quase que uma cultura anti-mulher, na qual se tem em baixa consideração tudo que é relacionado com o feminino. E assim, afiança-se a masculinidade tal como a sociedade a prescreve: homens não choram, homens não se rendem, morrem sorrindo, firmes, desafiando e amaldiçoando seus algozes. Pena.

E ainda queria falar sobre razão e paixão. A paixão é tida quase como uma obra do demônio. Muitos fogem dela como o diabo foge da cruz, pois sua maior característica é o descontrole das emoções. Uma das características mais propaladas da paixão é a vontade de jogar tudo para o alto, sem pensar nas conseqüências; mudar de vida eliminando tudo o que não parece satisfatório (aí dos envolvidos...); deixar de lado aspectos da vida profissional; por vezes “destruir” famílias constituídas para num rompante egoísta querer só para si o objeto da paixão, chegando mesmo a cometer homicídios passionais. E o pior! Expor os sentimentos mais profundos de maneira desordenada, em rompantes de paixão.
É aqui que entra a razão, numa tentativa de domar a paixão, de não deixar que se transforme num gozo destruidor (acho que vêm daí os termos “perdidamente apaixonado” ou “cego de paixão”). Usa-se da razão para tentar clarear a visão, para ordenar, disciplinar e definir a direção da paixão.
E encontrar a medida exata entre paixão e razão é a questão maior! Se a razão reprime a paixão, triunfa a rigidez, a tirania da ordem, e o resultado acaba sendo uma relação contida demais, sem espaço para certa transgressão (mesmo aquela dentro de padrões considerados normais pela sociedade), e onde não cabem declarações de sentimentos, nem mesmo as mais contidas. Se a paixão dispensa a razão, vigora o delírio das pulsações, o afã hedonista do puro prazer, e as manifestações teatralizadas de afetos e sentimentos. O sentimentalismo domina. E ele está estreitamente ligado ao espetáculo, à carga forte e passageira da cena que emociona mas que tem vida curta. Uma descarga que possibilita o retorno à vida comum com certa sensação de bonança depois da tempestade.
O equilíbrio da paixão pela razão é que possibilita o surgimento da ternura. Ela é o cuidado com o outro, o gesto amoroso que protege; a palavra que expressa os sentimentos na justa medida, sem receio de dizer as famosas frases que resultam em reforço de egos ou a invenção de apelidos ou de linguajar particular, ou ainda os pactos de cumplicidade e as mais variadas formas de expressão dos sentimentos por palavras e gestos. Tudo flui sem constrangimentos e sem pensar ou não em futuros compromissos. Creio que essa é a altura em que se vive um relacionamento de entrega por pura vontade de fazê-lo, não pensando na permanência ou não da relação, e se as possíveis juras feitas poderão ser ou não eternas ou comprometedoras. Vinicius de Moraes tem uma frase interessante para esse momento: Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure. Gostaria ainda de dizer que acho que esse equilíbrio não significa de maneira nenhuma temperatura morna. É entrega incondicional, o entregar-se de consciência e corpo. Não uma entrega temporária como empréstimo, para avaliação, mas entrega sem condição, para processos e reprocessos (com correspondência ou não). Entrega plenificadora, que move, amadurece, torna seres humanos mais completos. É o que possibilita o fim do círculo vicioso do cênico e do simulacro. Sem medo da dor ou de correr riscos. Sem “limites de segurança”.

02:02  

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