Thursday, April 28, 2005

Demolhar.

Por vezes interrogo-me do conjunto de sentidos que a vida nos vai trazendo, aparentemente de forma linear, mas esta frequentemente rasgada pela ideia do sonho.
Esta ideia do sonho, vive ou revive durante o sono, mas igualmente assalta-nos a vigília.
O absorto caracteriza-nos externamente o momento em que perdemos a visão num qualquer vislumbre de algo além, ou aquém, do sensível. A subtileza é tal neste assalto, que facilmente é substituível por uma qualquer futilidade.

Esta água de demolha de bacalhau, transposta para fora de nós em materialização de atitude, é uma forma simplória de fuga ao compromisso, e queda em ideias gerais.
O abstracto dá a mão ao concreto, nesta solução aquosa de bacalhau, e torna-se muito fácil justificarem-se adjectivos como “confiança” ou “liderança”.
Esta sopa não fica completa, sem um pouco do verniz do verdete à bacalhau fora de prazo, que a redundância nos transmite.

Este “choque tecnológico” é uma boa ideia.
Não é uma boa ideia por causa de “ser bom para o país”. Esta solução aquosa de sal e bacalhau, não encerra por si só a causa, encerra sim uma redundância de um sujeito que nada tem de melhor para responder à expectativa exigente que nos envolve.
É uma boa ideia, sim, porque se tal choque se vier a verificar, trará consigo uma profunda alteração no “modus vivendi” dos nossos espécimes protegidos de safios, cartilagíneos das profundezas, que representam o nosso empresário/gestor-tipo. Tal profunda alteração terá que envolver também o estímulo dos assalariados do meio. Passar de acenos promissores para construir “hype” e “leadership” numa equipa de implementação, para objectivos concretos a atingir. Modificar esta vergonhosa “flexibilidade” dos recibos verdes, para uma maior responsabilização de ambas partes no alcances dos objectivos, de projecto a projecto, de empresa a empresa e de âmbito a âmbito.

É por isso que a extensão do argumento de que “é bom (...) porque é bom” é indesejável, e ter-se-á que se alterar rapidamente para uma relação causa/efeito nada fraudulenta.
E porque envolve tantos âmbitos específicos que nos interessam a todos, não só aos “nerds”/”cromos”, é urgente.

Se não, é mais uma eterna demolha esquecida numa bancada de cozinha desarrumada, com “chefs” e sem ajudantes, com pobres e cães à porta pelos restos e sem clientes e com tachos e sem pratos que é este nosso país.

Assim, sempre que o sonho nos rasga vigília, o estado absorto deve ser o menos duradouro. Deve ser apenas aquela fracção de segundo que separa a ideia da acção. A vida prolongada do estado absorto é uma demolha imensa....

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