Thursday, March 31, 2005

Elas

Nunca fui do "diz que disse", do "segundo x, em espaço A, tal" e muito menos dormi bem com encruzilhadas de referências a artigos baseados em referências e muito menos com saladas afins.

A excepção de hoje, enquadra-se com o provecto título com que Pacheco Pereira cumpre hoje (quinta, 31 de Março) a sua obrigação profissional no jornal Público.
"Das mulheres ou apenas de algumas mulheres" evoca-me toda a salada - mais uma! - recente em torno da participação feminina na política, como quem diz, na sociedade em geral.
Das quotas, aos governos imaginários femininos, dos sacos azuis ao abuso de poder, de Felgueiras obscena à Estrela escandalosa, desengane-se o leitor: não pretendo aqui fazer qualquer tipo de manifesto nem contra, nem a favor de metade da raça humana.

Apenas e mais uma vez, um desdém.
Um desdém pela sordidez com que se refere às mulheres e à sua natural participação feminina na sociedade, com o mesmo tipo de discurso utilizado na integração dos emigrantes, dos deficientes, no combate ao racismo, na aceitação das diferenças (sejam de orientação sexual, religião, políticas, morais, etc..), enfim, de todo um conjunto de quocientes numa sociedade dividida entre o "nós" e os "outros".

Estes "outros", são os "Aliens", os "estranhos", os "diferentes", que embora culturalmente se compreenda esta colagem nos emigrantes e afins, custa-me aceitar que Elas se incluam em algum destes quocientes.

É verdade que quando acontece conhecer uma Ela que subtilmente me pergunte (e já o fizeram!) numa rajada subliminar qual a marca do meu carro, se sou licenciado e em quê, que bens tenho ou o meu escalão de IRS, tenho a tentação de pensar que Ela não faz parte do "nós". E que por isso precisa de direitos especiais que a protejam, à pobrezita da desprotegida.

Mas também é verdade que todos "nós", homens ou mulheres, temos as nossas alturas em que nos sentimos desprotegidos. A mim, sinceramente, faz-me confusão que esta visão "correcta" de quocientes sociais não perspective que me sinta desprotegido, parece que "por ser gajo, tenho que me aguentar à bronca sozinho", e criar condições para proteger alguma pobrezita desprotegida, se quiser procriar, enfim... será que não é muito correcto colocar as coisas assim?

O facto é que me parece que se quisermos falar n'Elas, teremos que falar em "nós".
Muito mais e melhor.

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Vamos falar de "nós" então...

23:58  
Anonymous Anonymous said...

Bastante hilariante..Um beijo com algumas saudades..
Metamrfs

11:16  
Anonymous Anonymous said...

A frustração é evidente... Parece-me que não ultrapassou o episódio. Se o tivesse feito o post transpareceria ironia e não "ressabiamento" ( nada sei quanto à institucionalização da palavra!). O papel de vítima não lhe assenta nada bem. O que custa mais a sarar a sensação de que não somos suficientemente bons para determinada pessoa ou a ousadia daquela mulher em querer tirar partido de um comportamento à seculos inerente aos Homens?

Lempicka...

12:37  
Blogger joao.filipe said...

Cara Lempicka,

Antes de mais, agradeço-lhe a sua participação sentida.

Na minha visão, o "post" transpira ironia pelos poros, mas pode ser falha minha de comunicação, ou poderei estar a tentar enganar-me a mim próprio.
Considero as duas hipóteses válidas.

Por outro lado, pessoalmente, penso que a vida tem um constante sarar, pois penso sempre não estar a ser "suficientemente bom" para comigo próprio, de modo que uma frustração assim dirigida a uma qualquer "pobrezita & desprotegida" é tão pouco como nada. Ou então a "pobrezita & desprotegida" merece de facto ser o alvo de toda a minha ira, e mais uma vez, engano-me a mim próprio.
Considero as duas hipóteses válidas.

O partido que determinada pessoa tira de um "comportamento" há "séculos inerente" ao meu género, para mim tem de tão pouco ousado, como de retrógrado, reaccionário e de tacanhez. Ou então digo isto só para me armar em progressista de corrida, porque o que desejo no fundo dos fundos é uma "pobrezita & desprotegida" assim, que me dê filhos, cosa as minhas meias, passe a ferro e cumpra todas as lidas da casa, e que eventualmente nas horas difíceis se disponha carinhosamente a levar uns tabefes... e os aguente! Pois tira-se partido de um lado, o outro também tira partido...!
Com o seu âmbito, tenho que considerar as duas hipóteses válidas.

Quanto a vítima, cara senhora Tâmara de Lempicka, não sou eu qualquer putéfia - tanto faz aristocrata ou carroceira - ao ponto de culpar sempre outros e de os obrigar a responsabilizarem-se por mim e pelos meus actos.
Sou fundamentalmente vítima de mim próprio, neste espaço que é meu.

Portanto, seja bem vinda...
Obrigado.

15:05  
Anonymous Anonymous said...

2É como se o corpo possuisse o segredo de quem somos e seremos. "Quero saber-te mais...
Lempicka.

15:04  

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