Friday, December 03, 2004

Despedimentos

Estabilidade
do Lat. stabilitate
s. f.,
qualidade de estável;
constância;
persistência;
permanência;
firmeza;
segurança;
solidez.

A noção de estabilidade é algo que nesta semana que finda, faz todo o sentido abordar. Julgo pertinente seccionar as perspectivas de estabilidade em duas distintas.
Uma primeira, relaciona o conceito com a imutabilidade, constância, firmeza e afins, de forma directa e simplista. Neste caso, estabilidade significará a manutenção de um estado de coisas num sistema, mesmo que erros persistam e hábitos descabidos se perpetuem.
Numa segunda perspectiva, será o funcionamento dinâmico das variáveis de um sistema, previamente regulamentadas pelos fundamentos deste.

Numa curta observação retrospectiva, a presença da palavra estabilidade no diálogo político português surge com recorrência como argumentação da direita contra a esquerda. Desde a segunda metade dos anos 80, a palavra instabilidade surge por inerência no apelo ao voto contra a esquerda. O mesmo aconteceu nas eleições de 1995, pelos vistos infrutiferamente. Nestes últimos quatro meses, a palavra regressou novamente, de ambos os sectores, embora com ligeirezas diferentes. Mas afinal que estabilidade é esta com que determinados agentes insistem?

A primeira perspectiva é a mais fácil, portanto, a que tem mais probabilidades Aparentes de se propagar na "massa eleitoral". A ideia de que umas eleições legislativas devem sancionar custe o que custar uma determinada maioria até ao fim do mandato é assim veiculada como definição de estabilidade.
A segunda perspectiva, é a mais difícil, já que carece de maior análise e exercício mental por parte de cada indivíduo desta dita "massa eleitoral", que recorrente e predominantemente foge da matemática, quanto mais de avaliar e correlacionar variáveis que interfiram nos seus destinos.

A primeira ideia, é por exemplo, a que parcialmente sancionou um Mobutu que garantiu cerca de três décadas de "estabilidade" no país que descendeu do antigo Congo Belga. É também a que serviu para legitimar em Aparência um Suharto, aos olhos dos Australianos. Os exemplos, seriam infindáveis.
Foi com esta primeira ideia de estabilidade que Santana Lopes desde cedo chamou a si uma pretensa legitimidade para governar, após ter sido escolhido através de tricas de corte modernas. Foi ainda no âmbito desta primeira ideia, com que Sampaio deu a sua anuência a Santana, mas que trazia em attachment a estratégia de deixa-lo percorrer o caminho de Narciso e definhar na vingança de Eco através de Némesis.
Aqui, vemos um pouco mais do que Aparência.
Pode-se sem dúvida afirmar que a noção de estabilidade, como qualquer conceito criado pelos humanos, não está acima das estratégias de poder que estes desenrolam. Por isto mesmo o sistema, através da constituição, partilha poderes e investe responsabilidades. Recordemos um governo que caiu na Holanda, recentemente, e ninguém se atreve a classificar aquele país de instável. A estabilidade dinâmica, por princípio, comporta a chamada dos decisores (eleitores) para decisões (eleições), sempre que os mecanismos consagrados o accionem. Esta dinâmica demonstra que afinal em Portugal já há política madura, goste-se dos protagonistas ou não, mas demonstra principalmente que a linha entre uma estabilidade à Mobutu e uma ideia madura ainda é muito ténue nas mentes portuguesas.

Sampaio soube com diligência segurar-se na segunda ideia de estabilidade para desenvolver a sua agenda política, sob os auspícios de uma Aparência marginalmente aceitável e acoplada à primeira ideia, mas sem dúvida muito mais habilidosa que a do estridente Santana. São efectivamente fibras diferentes, as de um que visualiza a estabilidade de forma dinâmica, e as de outro que se assenta exclusivamente em Aparência.

Para mim, uma convocação de eleições é sempre um sinal de estabilidade e maturidade democrática. Seja quantas vezes forem precisas. O contrário é que levantaria sempre dúvidas e interrogações, e me faria sentir mais próximo da "estabilidade" do Zaire de Mobutu.

Resta pesar o facto da estratégia de Sampaio ter saído cara aos contribuintes e à paciência de muitos Portugueses, demasiado cara para o que resultou num mero e há muito adivinhado Despedimento Colectivo por Justa Causa.

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