Sunday, November 28, 2004

Automatismos

Um dia, num futuro distante, uns seres de um qualquer planeta perdido na galáxia, conseguiram chegar às estrelas.
Conseguiram elaborar métodos de transporte virtualmente instantâneos, que lhes permitem alcançar qualquer ponto do Universo.
O impacto deste conhecimento transformou profundamente a sociedade destes seres. Individualmente, transformaram-se numa organização de arqueólogos e exploradores dispersos, de planeta em planeta, de sistema em sistema, explorando e catalogando o que havia.
Um dia um destes seres, solitário, chega a um planeta azul a que outrora os seus habitantes entretanto desaparecidos chamaram de Terra.
Deambulou pelas ruínas de cidades, de instalações, fez levantamentos geológicos que lhe permitiram perspectivar as várias etapas de desenvolvimento e evolução destes estranhos seres que se auto-classificavam de humanos.
Observou espantado como tinham sobrevivido a inúmeros riscos e transformações ao longo de milénios.
Ainda mais espantado, analisou detalhadamente implantes industriais, edifícios e equipamentos ainda funcionais com auto-manutenção automatizada ainda em processamento.
Constatou que estes seres teriam entrado em declínio pela lassidão e luxúria permitidas pela completa cibernetização de todas as infra-estruturas. Estas, após milhares de anos de os criadores terem desaparecido, ainda laboravam.
Na catalogação intensiva do planeta, descobriu um canto com algo de insólito.
Uma cidade que teria dado pelo nome de "Lesboa", anteriormente "Lisboa" depois de "Olissipus", de uma zona chamada "Pert'gal", anteriormente "Portugal" depois de "Lusitânia" que pertencia à zona "Êurea", anteriormente "Europa" depois de "Império Romano".
O insólito dessa cidade, nos seus arredores, era uma infra-estrutura única, ímpar na catalogação efectuada até então.
Tinha elementos contraditória e aparentemente mistos da era pré-cibernética para a frente.
E continuava funcional.
Um espaço decorado por bandeiras vermelhas, onde se reuniam autómatos aleatórios das tarefas de manutenção das infra-estruturas. Sentavam-se alinhados e ordenados, fixando um púlpito onde se sentavam elementos dos seus pares.
O espanto deste viajante intensificou-se com a constatação de que era uma eleição.
De que havia comunicações nesta eleição que apontavam inimigos em todo o lado. Ainda.
Sobre o desaparecimento dos criadores e reajustes à nova situação, nada.
Este fenómeno deu entrada na Enciclopédia destes seres arqueólogos e viajantes, como sendo o mais imutável e perpétuo alguma vez encontrado até à data.
Tendo atravessado eras de transformações profundas, permaneceu sempre isolado, embora embebido, dos processos externos.
Este fenómeno que justificou uma reunião inédita in loco das cúpulas dirigentes destes seres do espaço, tinha uns estranhos símbolos de instrumentos da era agrícola e pré-industrial desta raça desaparecida.
Este fenómeno que permaneceu alheio a tudo, e permanecia inclusive alheio à presença destes seres que o observavam atónitos, tinha em determinada altura, substituído os seres vivos que o compunham por autómatos operacionais das infra-estruturas sem que se fizesse notar qualquer diferença.
Algo nunca antes documentado por estes viajantes que trataram de o descrever pormenorizadamente na sua Enciclopédia Universal.
A estrutura dava pelo nome de PCP.
O âmbito apelidava-se de Congresso.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home