Wednesday, November 29, 2006

"Laurinda Uber Alles"

I am Señora Laurinda Alves
My aura smiles
And never frowns
Soon I will be priestess...

SCIENCE Power will soon go away
I will be Cardinal one day
I will command all of you
Your kids will MEDITATE in school
YOUR KIDS WILL MEDITATE IN SCHOOL!

[Chorus:]
Laurinda Uber Alles
Laurinda Uber Alles
Uber Alles Laurinda
Uber Alles Laurinda

ZEN FASCISTS WILL CONTROL YOU
100% NATURAL
You will jog for the MASTER RACE
And ALWAYS WEAR THE HAPPY FACE

Close your eyes, can't happen here
Big Bro' on white horse is near
The HIPPIES won't come back you say
Mellow out or you will pay
Mellow out or you will pay!

[Chorus]

Now it is 2024
Knock-knock at your front door
It's the suede/denim secret police
They have come for your UNCOOL NIECE

Come quietly to the camp
You'd look nice as a drawstring lamp
Don't you worry, it's only a shower
For your clothes here's a pretty flower.

DIE ON ORGANIC POISON GAS
Serpent's egg's already hatched
You will croak, you little clown
When you mess with BEATA LAURINDA
When you mess with SANTA LAURINDA

[Chorus]

Do original "California Uber Alles", Dead Kennedys - 1979
Obrigado, Jello Biafra.

Primórdios

F.
AS então oferecidas pequenas folhas secas em livros, autocolantes especiais ou pensamentos mágicos de descoberta da nostalgia do então presente ou da fantasia do que poderia vir mas nem tanto, são rasgos que permanecem como a tentativa de descobrir do outro, do sentir o outro, de querer conhecer o que é estar no outro. F. foi uma menina cujo standard alertou-me para o que havia além algures, além dos meus comboios miniatura, além do meu gosto pela brincadeira dos pontos e das notas, além da mera sobrevivência dos intervalos como pontos de encontro desinteressantes e desiguais no contacto com meninos cujo pai tinha o carro x e a mãe o carro y, mas cujo mundo máximo era uma ida aos caramelos de Badajoz, ou às raízes familiares da Madeira. F. tornou-se mais tarde numa adolescente típica nas LC's pertencentes aos outros, dando assim os seus primeiros passos em direcção à sua prostituição privada.

T.
OS pequenos passos dos intervalos, os corares envergonhados causados por algum saber já  incipiente, os pequenos encontros de apreciação, os olhares cruzados que se evitavam, os pequenos desenhos que se viam com orgulho e o fervor da recordação daquele rosto pálido mas sobejamente sereno provocavam um descanso sobre o próprio gosto da acção. T. progrediu como seria esperado, no seu standard estabelecido. De facto, tão diferente, tão standard - a parvinha! - sucumbiu ao dito e ao que se dizia, veiculado pela amiguinha namorada do tóxico assaltante de vivendas, que findou na venda de si mesma na Estrada do Guincho. T., hoje, deverá ser alguém sofisticado,no entanto, isto aqui descrito nunca existiu.

B.
UM aniversário por convite de arrasto conduziu a uma primeira coisa-tipo-namorada: tardinhas fins-de-aulas, truques de encontro e telefonemas marados à parte foi uma existência inexistente, como creio que terá sido a vida que se seguiu à traiçãozinha da "curtição", à separação e retorno, em suma à nulidade dela própria sobejamente experimentada.

L.
UM conhecimento casual, um aniversário especial, uma intensidade serena que se diluia no tempo de contacto transformou algo inesperado em algo inesperado. A partir de interesse diverso, L. tornou-se na primeira oferta de rosa no dia dos namorados, dos encontros de cinema ao fim de semana à tarde no defunto Miramar, nos passeios, na especialidade de um convite a casa quando sozinho, na segurança e tranquilidade transmitidas, de forma duradoura. Uma existência sempre presente sobejamente estragada por mim, com ingenuidade caída em tramas de invejas alheias, má gestão e trapalhice dos inícios de explosão adolescente. Um reencontro é sempre uma recordação tão presente como a ausência de sentido do presente, apesar da mulher que foi e é.

F. foi uma menina, cuja história é similar à de tantas outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação aqui presente, como na posterioridade. Da mulher de hoje pouco ou nada sei, nem - sinceramente, me interessa, pois o desconhecimento faz-nos o favor de se encerrar a si próprio.
F. Foi a minha primeira paixão, como um sub-woofer colocado sobre o órgão ainda mínimo e impreparado onde jazem este tipo de sentimentos.

T. foi uma menina, cuja história é diversa à de tantas outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação aqui ausente, como na posterioridade. Da mulher de hoje, pouco ou nada sei, nem - cinicamente, me interessa, pois o desconhecimento faz-nos o favor de se abrir em si próprio.
T. foi a minha segunda paixão, um vislumbre do que poderia ser, e do que pode cair por tão pouco com gente que é tão pobre. Mesmo na diferença.

B. não foi uma menina, cuja ausência de história é igual à de nenhuma: tanto no tempo em que  decorreu a expiação aqui presente, como anterioridade. Da menina de hoje, pouco ou nada sei, nem - admiravelmente, me desinteressa, pois a sensação faz-nos o favor de se anular em si própria.
B. Foi o meu primeiro protótipo de namorada. Protótipo porque um nada em nada se torna, e se algo se pretende que se torne, só depende de quem vê: e é incompleto, uma experiência.

L. foi uma mulher, cujo fado é similar ao de tantas outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação sempre presente, como na posteridade. Da mulher de hoje, tanto ou nada sei, pois o conhecimento faz-nos o favor de se renovar em si próprio.
L. foi de facto a minha primeira namorada, depois da qual, ainda hoje procuro recuperar o bem-estar sereno que é simultâneo com a víscera sofisticada do significado. O sentido que hoje não faz, existe na evocação da transformação aqui evocada e molda-me o paradigma mordaz que me faz ser e estar na paixão.

A veleidade daquilo que nos é de especial intensidade dilui-se com o tempo, com o crescimento, com os lugares por onde passamos, pelos seres onde nos transformamos.

Que tenebrosos segredos terá o leitor que após estas palavras se interrogue em como poderei eu ter escrito estas linhas...
Seja bem-vindo, ou vá-se lixar - como prefira - pois são meus e estão aqui estes Primórdios.

Três Títulos

"PJ detém antigo segurança ligado ao caso Camarate"

"Em Alfragide: Recém-nascido encontrado com vida dentro de um saco térmico"

"Desconhecem-se as razões: Tribunal suspende processo de José Veiga relativo ao banco Dexia"

Numa rápida radiografia às últimas notícias, num determinado momento, deparam-se-me estas três notícias. O insólito não se encontra em cada uma nem no conjunto, mas simultaneamente em cada uma e no conjunto.

Tinha eu pouco mais de 5 anos, e na TV de um vizinho observo uma multidão pesarosa em directo no primeiro programa da RTP, era o funeral de Sá Carneiro. Foi a primeira vez que observei a dedicação da massa anónima a um desconhecido conhecido e, confesso, que me aferiu posteriormente o que sinto relativamente ao fim de uma vida. Trágico, ou "natural" se tal for possível, um fim de vida é um extinguir, é a dispersão última da matéria que compõe - ou compôs - a vida de uma pessoa tal como os seus conterrâneos a conheceram.

Um início de vida é também algo assinalável, e por razões diversas, a minha experiência também valoriza o recato, alguma serenidade e espaço para a azáfama que provoca o aparecimento de uma nova vida entre os seus. Esta do saco térmico é para mim nova, e o termo último dos super-mercados & shoppings, já que é comum um tipo cá chegar e zás, ninguém o deixa em paz e enchem-lhe o berço e arredores de Chicco's, Fisher-Price's e Toys afins.
Porra, há um mundo inteiro de visões, faces, cheiros, tactos, sensações, pessoas, sabores, afectos, etc. a descobrir e já metem estas merdas todas à frente de um recém-chegado? De facto, só faltava efectivamente uma pessoa nascer e ser metida dentro de um saco térmico.... Shopping por shopping, Fisher-Price por Fisher-Price, venha o diabo (ou porque não deus!?) e escolha....

Nunca gostei lá muito das gentes do futebol, começando nuns, acabando noutros. Não se trata da questão dos milhões que circulam e alimentam muitas bocas, mas sim do tipo de situações que provocam som neste sector: O senhor de clube tal que vocifera acusações sobre fulano de clube tantos, os consequentes ecos e reacções nos media e todo o diz-que-disse envolvido reduz esta gentalha a um papel químico e simétrico das revistas cor-de-rosa, sendo os dirigentes protagonistas, como que as tias das revistas.

A pouca importância que tem cada coisa, no meio de tanta coisa, leva-nos à banalização. Com um pouco de jeito e copy/paste poderíamos recompor as coisas:

"PJ detém Recém-nascido"

"Em Alfragide: José Veiga encontrado com vida dentro de um saco térmico relativo ao banco Dexia "

"Desconhecem-se as razões: Tribunal suspende processo de antigo segurança ligado ao caso Camarate"

... e a banalização é tal que se fossem estes os títulos encontrados, em nada admirariam alguém, pois nunca passariam de meros Três Títulos.

Monday, November 20, 2006

Do Androids Dream of Electric Sheep?

A história de contar carneirinhos para chamar o sono nunca me convenceu. Desde criança.
Recordo-me, desde sempre, que enquanto o sono não chegava utilizava a fantasia... Fosse a de estar num pequeno barco à vela num atol ou num recife, a de possuir a maior maqueta de comboios à escala H0 do mundo, a de ser maquinista de um qualquer TGV que atravessasse toda a placa euro-asiática, a de ser um cientista que descobrisse como dar cabo de bactérias sem dar cabo de células, tantas...!
Quando me entretinha com um qualquer Tio Patinhas e surgia um qualquer simbolismo de sono, além do serrote do ressonar, frequentemente surgiam os carneirinhos a saltar uma cerca. Recordo-me de me ter forçado a experimentar contá-los uma vez em que o sono custava a chegar, fosse por excitação fosse por ansiedade. Lembro-me de ainda ter ficado mais irritado, ora não bastava ter ido para a cama forçado, como ainda por cima aquela actividade estéril e sem qualquer objectivo de contar carneiros a saltar uma vedação, era a mãe de todas as secas.

Este "formato" dos carneiros não é de todo compatível comigo. Sempre me interroguei de onde viriam aqueles carneiros, e para onde se dirigiam após cada salto, e mais: quem ou o que os submeteria à provação da obrigatoriedade de saltar aquela vedação!? Não sei se mais alguém se interrogou desta forma acerca daqueles carneiros. Não sei tão pouco qual o significado simbólico, ou a interpretação que se pode efectuar desta "metáfora" colectiva.

Mas sei que Philip K. Dick conseguiu tocar em algo muito interessante ao colocar a questão de se os Andróides sonhariam com carneiros eléctricos. Para quem não sabe ou não se recorda, é o título do conto que originou o filme "Blade Runner", realizado por Ridley Scott.

Filmes à parte, o título encerra em si todo um conjunto de questões muito interessantes.

Seres diferentes de nós, sonharão?
Se sonham, como se caracterizarão esses sonhos?
Se nós já somos tão diferentes uns dos outros, qual a validade desses "formatos" de sonho?

Afinal, está-se ou não numa sociedade de sonhos fabricados, imaginários-standard e de objectos de afecto modeláveis?

Afinal.. Do Androids Dream of Electric Sheep?

Saturday, November 11, 2006

Viagem de Costas

O mundo passa e os seus fragmentos desaparecem ao fundo da minha vista sob a crescente velocidade em que me vejo a distanciar do ponto objectivo da minha deslocação.

Trago e ficam para trás, rebites de identidade.
Memórias dispersas de recordações, discussões acesas sob o fôlego de vinhos bons, flashbacks, pensamentos paralelos de um "presente-repensado" e escapes irracionais de pura liberdade transversalizam a minha experiência e reúnem-me.
Um espectáculo bizarro-conceptual-mas-contido de sabores lirico-andróginos seguido de uma pequena jam-session bem "swingada" condimentam esta sensação: A de que a viagem de ida foi de costas para o objectivo e a de regresso de costas para a origem.
Quantos não buscarão uma viagem, por mais pequena que seja, para poderem viajar dentro de si próprios?

Fui de costas para lá, onde a amizade ampara.
Regresso de costas para ti onde o teu paradigma me sustém e me revolve no meu próprio paradigma.

Efectivamente, só nos apresentamos de costas a quem confiamos.
Obrigado, por esta viagem de costas.

Thursday, November 09, 2006

Pare, escute e olhe...

.. quer em movimento sensível, quer em movimento relativo.

Ao andar de comboio, vejo-me e revejo-me em diversos tempos, diferentes no ser, diferentes na forma como os olho.

Reparo na pequena passagem de nível que foi "modernizada", na ponte nova, nos novos troços de sensação mais "lisa", nesta carruagem "Corail/UIC" francesa dos anos 60/70 que entraram em serviço pela CP em 1986 após após os choques das colisões de Santa Iria e de Paço D'Arcos, anunciada então como "modernas", e exploradas pelo serviço "alfa" e posteriormente pelos inter-cidades.
Não sou nenhuma autoridade em matéria de transportes ferroviários, mas conservo comigo ainda o meu primeiro conjunto de comboios à escala H0, datado de 1981. Conservo ainda comigo grande parte do que lhe fui acrescentando ao longo dos tempos, e fundamentalmente, conservo muitos dos catálogos que coleccionava - miragens de sonho para uma criança e mais tarde adolescente, cujas liberdades financeiras e de "aquisição de quereres" eram limitadas. Nestes catálogos, bem como nas recordações dos comboios franceses dos meus 5, 6, 7, 8, 9, 10 anos, as carruagens "Corail" encontram-se bem enraizadas: Lançadas em serviço nos anos 60 em França - construídas pela Alsthom, revolucionaram o conceito e velocidade da ferrovia convencional, velocidade máxima então: 220 km/h.

Neste inter-cidades em direcção ao Norte, exacto, não é alfa-pendulino, as velocidades nos troços "modernizados" alcançam valores redondamente próximos destes dos anos 60 da França pré-TGV: 180km/h. Opto por não pagar o excedente fraudulento de luxo cobrado no pendulino português, pois cada unidade custou ao erário público perto dos então 11 (onze) milhões de contos. Este viaja à mesma velocidade que o presente: excepto durante uns míseros 15 minutos de troço entre Porto em Lisboa durante os quais- e muito bem - o pendulino alcança os 200 e tal KM/H. Mais números? Muito bem:

1994, Lisboa St.ª Apolónia - Coimbra-B:
Inter-regional, duração de viagem: perto das 2:20 horas;
Intercidades, duração de viagem: 2:10 horas;
Alfa: 2:05 horas;

2006, Lisboa St.ª Apolónia - Coimbra -B:
Inter-regional, duração de viagem: ???
Intercidades, duração de viagem: 2.15 horas;
Alfa (agora pendular): 1:52 horas;

Se o leitor tem dificuldade em interpretar estes dados, paciência, o problema é seu: Cultive-se, regresse à escola, repense-se, ignore, ou faça o que quiser já que é o inquestionável rei do seu vastíssimo e interessantíssimo mundo. Mas deixe-me em paz e aos que de facto compreendem umas simples linhas, com uns dados muito simples de comparação prática e efectiva no mundo real.

O que é de facto importante é uma pergunta que me persegue de há uns tempos para cá: "Do Androids Dream of Electric Sheep?". Como quem se pergunta: sonharão os andróides com carneirinhos eléctricos?

Outra pergunta que me persegue, não menos sinistra... que caminhos terá a ciência e a técnica sob interpretações abusivas como uma que recentemente vi efectuada pelo editorial da revista Xis do Público?

As pressões para a formatação do conhecimento, do saber, da visão e da sensação... sucedem-se a um ritmo assustador, pois a soma dos múltiplos vazios que por aí não escassam com as perspectivas evangelizadoras sustentadas por uma ciência-de-conviniência começam a tomar proporções assustadoras.

Fico-me por este ligeiro balancear desta zona de travessas de betão e aço, de carris soldados mas não calibrados, que me recordam o charme nauseabundo das carruagens Sorefame do tempo da guerra colonial.... tento dormir, mas não posso.

Paisagens há muito conhecidas sucedem-se pela janela, Coimbra está à porta, sensação de múltiplas sensações ambivalentes... mas distante e saudosamente agradáveis tocam-me com a nostalgia do orgulho de ver a Alta e a Universidade.. lá sobranceira e vetusta sobre o rio, um dos dois únicos na génese de ninfas Portuguesas além das Tágides: as Mondeguinas..

Do Androids Dream of Electric Sheep?

Veremos..