Primórdios
F.
AS então oferecidas pequenas folhas secas em livros, autocolantes especiais
ou pensamentos mágicos de descoberta da nostalgia do então presente
ou da fantasia do que poderia vir mas nem tanto, são rasgos que permanecem
como a tentativa de descobrir do outro, do sentir o outro, de querer conhecer
o que é estar no outro. F. foi uma menina cujo standard alertou-me para
o que havia além algures, além dos meus comboios miniatura, além
do meu gosto pela brincadeira dos pontos e das notas, além da mera sobrevivência
dos intervalos como pontos de encontro desinteressantes e desiguais no contacto
com meninos cujo pai tinha o carro x e a mãe o carro y, mas cujo mundo
máximo era uma ida aos caramelos de Badajoz, ou às raízes
familiares da Madeira. F. tornou-se mais tarde numa adolescente típica
nas LC's pertencentes aos outros, dando assim os seus primeiros passos em direcção à sua
prostituição privada.
T.
OS pequenos passos dos intervalos, os corares envergonhados causados por algum
saber já incipiente, os pequenos encontros de apreciação,
os olhares cruzados que se evitavam, os pequenos desenhos que se viam com
orgulho e o fervor da recordação daquele rosto pálido
mas sobejamente sereno provocavam um descanso sobre o próprio gosto
da acção. T. progrediu como seria esperado, no seu standard
estabelecido. De facto, tão diferente, tão standard - a parvinha!
- sucumbiu ao dito e ao que se dizia, veiculado pela amiguinha namorada do
tóxico assaltante de vivendas, que findou na venda de si mesma na
Estrada do Guincho. T., hoje, deverá ser alguém sofisticado,no
entanto, isto aqui descrito nunca existiu.
B.
UM aniversário por convite de arrasto conduziu a uma primeira coisa-tipo-namorada:
tardinhas fins-de-aulas, truques de encontro e telefonemas marados à parte
foi uma existência inexistente, como creio que terá sido a vida
que se seguiu à traiçãozinha da "curtição", à separação
e retorno, em suma à nulidade dela própria sobejamente experimentada.
L.
UM conhecimento casual, um aniversário especial, uma intensidade serena
que se diluia no tempo de contacto transformou algo inesperado em algo inesperado.
A partir de interesse diverso, L. tornou-se na primeira oferta de rosa no dia
dos namorados, dos encontros de cinema ao fim de semana à tarde no defunto
Miramar, nos passeios, na especialidade de um convite a casa quando sozinho,
na segurança e tranquilidade transmitidas, de forma duradoura. Uma existência
sempre presente sobejamente estragada por mim, com ingenuidade caída
em tramas de invejas alheias, má gestão e trapalhice dos inícios
de explosão adolescente. Um reencontro é sempre uma recordação
tão presente como a ausência de sentido do presente, apesar da
mulher que foi e é.
F. foi uma menina, cuja história é similar à de tantas
outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação aqui presente,
como na posterioridade. Da mulher de hoje pouco ou nada sei, nem - sinceramente,
me interessa, pois o desconhecimento faz-nos o favor de se encerrar a si próprio.
F. Foi a minha primeira paixão, como um sub-woofer colocado sobre o órgão
ainda mínimo e impreparado onde jazem este tipo de sentimentos.
T. foi uma menina, cuja história é diversa à de tantas
outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação aqui ausente,
como na posterioridade. Da mulher de hoje, pouco ou nada sei, nem - cinicamente,
me interessa, pois o desconhecimento faz-nos o favor de se abrir em si próprio.
T. foi a minha segunda paixão, um vislumbre do que poderia ser, e do
que pode cair por tão pouco com gente que é tão pobre.
Mesmo na diferença.
B. não foi uma menina, cuja ausência de história é igual à de
nenhuma: tanto no tempo em que decorreu a expiação aqui
presente, como anterioridade. Da menina de hoje, pouco ou nada sei, nem - admiravelmente,
me desinteressa, pois a sensação faz-nos o favor de se anular
em si própria.
B. Foi o meu primeiro protótipo de namorada. Protótipo porque
um nada em nada se torna, e se algo se pretende que se torne, só depende
de quem vê: e é incompleto, uma experiência.
L. foi uma mulher, cujo fado é similar ao de tantas outras: tanto no
tempo em que decorreu a evocação sempre presente, como na posteridade.
Da mulher de hoje, tanto ou nada sei, pois o conhecimento faz-nos o favor de
se renovar em si próprio.
L. foi de facto a minha primeira namorada, depois da qual, ainda hoje procuro
recuperar o bem-estar sereno que é simultâneo com a víscera
sofisticada do significado. O sentido que hoje não faz, existe na evocação
da transformação aqui evocada e molda-me o paradigma mordaz que
me faz ser e estar na paixão.
A veleidade daquilo que nos é de especial intensidade dilui-se com o tempo, com o crescimento, com os lugares por onde passamos, pelos seres onde nos transformamos.
Que tenebrosos segredos terá o leitor que após estas palavras
se interrogue em como poderei eu ter escrito estas linhas...
Seja bem-vindo, ou vá-se lixar - como prefira - pois são meus
e estão aqui estes Primórdios.
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