Wednesday, November 29, 2006

Primórdios

F.
AS então oferecidas pequenas folhas secas em livros, autocolantes especiais ou pensamentos mágicos de descoberta da nostalgia do então presente ou da fantasia do que poderia vir mas nem tanto, são rasgos que permanecem como a tentativa de descobrir do outro, do sentir o outro, de querer conhecer o que é estar no outro. F. foi uma menina cujo standard alertou-me para o que havia além algures, além dos meus comboios miniatura, além do meu gosto pela brincadeira dos pontos e das notas, além da mera sobrevivência dos intervalos como pontos de encontro desinteressantes e desiguais no contacto com meninos cujo pai tinha o carro x e a mãe o carro y, mas cujo mundo máximo era uma ida aos caramelos de Badajoz, ou às raízes familiares da Madeira. F. tornou-se mais tarde numa adolescente típica nas LC's pertencentes aos outros, dando assim os seus primeiros passos em direcção à sua prostituição privada.

T.
OS pequenos passos dos intervalos, os corares envergonhados causados por algum saber já  incipiente, os pequenos encontros de apreciação, os olhares cruzados que se evitavam, os pequenos desenhos que se viam com orgulho e o fervor da recordação daquele rosto pálido mas sobejamente sereno provocavam um descanso sobre o próprio gosto da acção. T. progrediu como seria esperado, no seu standard estabelecido. De facto, tão diferente, tão standard - a parvinha! - sucumbiu ao dito e ao que se dizia, veiculado pela amiguinha namorada do tóxico assaltante de vivendas, que findou na venda de si mesma na Estrada do Guincho. T., hoje, deverá ser alguém sofisticado,no entanto, isto aqui descrito nunca existiu.

B.
UM aniversário por convite de arrasto conduziu a uma primeira coisa-tipo-namorada: tardinhas fins-de-aulas, truques de encontro e telefonemas marados à parte foi uma existência inexistente, como creio que terá sido a vida que se seguiu à traiçãozinha da "curtição", à separação e retorno, em suma à nulidade dela própria sobejamente experimentada.

L.
UM conhecimento casual, um aniversário especial, uma intensidade serena que se diluia no tempo de contacto transformou algo inesperado em algo inesperado. A partir de interesse diverso, L. tornou-se na primeira oferta de rosa no dia dos namorados, dos encontros de cinema ao fim de semana à tarde no defunto Miramar, nos passeios, na especialidade de um convite a casa quando sozinho, na segurança e tranquilidade transmitidas, de forma duradoura. Uma existência sempre presente sobejamente estragada por mim, com ingenuidade caída em tramas de invejas alheias, má gestão e trapalhice dos inícios de explosão adolescente. Um reencontro é sempre uma recordação tão presente como a ausência de sentido do presente, apesar da mulher que foi e é.

F. foi uma menina, cuja história é similar à de tantas outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação aqui presente, como na posterioridade. Da mulher de hoje pouco ou nada sei, nem - sinceramente, me interessa, pois o desconhecimento faz-nos o favor de se encerrar a si próprio.
F. Foi a minha primeira paixão, como um sub-woofer colocado sobre o órgão ainda mínimo e impreparado onde jazem este tipo de sentimentos.

T. foi uma menina, cuja história é diversa à de tantas outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação aqui ausente, como na posterioridade. Da mulher de hoje, pouco ou nada sei, nem - cinicamente, me interessa, pois o desconhecimento faz-nos o favor de se abrir em si próprio.
T. foi a minha segunda paixão, um vislumbre do que poderia ser, e do que pode cair por tão pouco com gente que é tão pobre. Mesmo na diferença.

B. não foi uma menina, cuja ausência de história é igual à de nenhuma: tanto no tempo em que  decorreu a expiação aqui presente, como anterioridade. Da menina de hoje, pouco ou nada sei, nem - admiravelmente, me desinteressa, pois a sensação faz-nos o favor de se anular em si própria.
B. Foi o meu primeiro protótipo de namorada. Protótipo porque um nada em nada se torna, e se algo se pretende que se torne, só depende de quem vê: e é incompleto, uma experiência.

L. foi uma mulher, cujo fado é similar ao de tantas outras: tanto no tempo em que decorreu a evocação sempre presente, como na posteridade. Da mulher de hoje, tanto ou nada sei, pois o conhecimento faz-nos o favor de se renovar em si próprio.
L. foi de facto a minha primeira namorada, depois da qual, ainda hoje procuro recuperar o bem-estar sereno que é simultâneo com a víscera sofisticada do significado. O sentido que hoje não faz, existe na evocação da transformação aqui evocada e molda-me o paradigma mordaz que me faz ser e estar na paixão.

A veleidade daquilo que nos é de especial intensidade dilui-se com o tempo, com o crescimento, com os lugares por onde passamos, pelos seres onde nos transformamos.

Que tenebrosos segredos terá o leitor que após estas palavras se interrogue em como poderei eu ter escrito estas linhas...
Seja bem-vindo, ou vá-se lixar - como prefira - pois são meus e estão aqui estes Primórdios.

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