Monday, December 06, 2004

Bocas

“A Língua é o primeiro dos nossos afectos (...)” entrou-me pela paz e quietude de Fringes adentro com o anuncio de Fátima Campos Ferreira no âmbito do seu próximo Prós e Contras.
Pois é bem verdade, e não poderia estar mais correcta, FCF, ao afirma-lo.
Se-lo-á na medida das paixões de cada um, em que cada qual coloca a boca onde mais gosta revelando assim as suas expressões de paixão que, sendo mais ou menos obscuras e venham de onde vierem, serão sempre honestas.
Isto da boca ir à paixão, ou do objecto de paixão ser levado à boca, é uma questão de referenciais, sempre relativos ao método de observação.
Como povo, gostamos muito das denominadas “bocas”, por tudo e por nada, e o meio de excelência desta expressão, entre nós, é o futebol.
A bola, por cá, arrasa pazes, contradiz paixões, transfigura personalidades, elege e destitui desígnios com uma rapidez tão impressionante quanto a facilidade com que se processa.
Num momento, é-se rei, herói ou referência, e no outro, um vulgar criminoso, miserável e odioso.
Pinto da Costa, quer se goste, quer não se goste, é uma referência na nossa cultura do “por a boca”. Seja em trombones, seja sob a forma de dedos em feridas, PC sempre elegeu a palavra, produto directo da boca, como o seu meio privilegiado de defesa, numa mestria estratégica em que transformou num meio de ataque tão eficaz como gélido nos resultados que apresenta, principalmente desde aquele já distante episódio determinante do WC das Antas.
É assim que vejo no dia da notícia da sua detenção habilmente evitada, uma jovem adepta loira, bonita, de sotaque próprio, a defender na Televisão que o envolvimento de PC nas investigações denominadas Apito Dourado, se deve ao facto do FCP ter passado a liderar a tabela classificativa. Revelou evidentemente como a boca se cola ao hábito. E não querendo questionar a moralidade dos hábitos da dita da jovem, cabe-me no entanto com perplexidade, referenciar aqui esta observação: A facilidade com que no hábito, mesmo quando o FCP não precisa de se comparar com os rivais, as bocas obedecem à trilha da usualidade vitimista.
Parece algo que está na moda nos dias de hoje, disfarçar inaptidões ou podres com a recorrência à vitimização mesmo que desnecessariamente. Será que afinal a vítima está na moda, e que nos tornaremos, mais dia menos dia, numa sociedade de vítimas sempre a mandar bocas?
Sendo a língua o primeiro dos nossos afectos, segundo FCF, a boca é o seu primeiro veículo. E de uma personalidade recheada de bocas no seu curriculum como PC, não será de forma alguma de espantar que se lhe descubram hábitos secretos e menos virtuosos. O mesmo aconteceu a outros dirigentes entretanto revelados como os seus arqui-inimigos (coincidência de proximidade?), pelo livro que PC editou denominado com tal antítese que não poderá deixar de ser mais uma boca: o título “Largos dias têm cem anos” é tão etéreo e de um naif pró-poético de tal forma doloroso, que se contradiz diletantemente e com as características vorazes, destruidoras e impiedosas da carreira do Átila do desporto profissional português, como atestarão as suas conquistas intensivamente descritas no editado.
Se levarmos a sério a frase de FCF, concluímos que a boca é o primeiro veículo da expressão da nossa paixão. Mas também, se se levar a sério o presente caso de PC, torna-se em lei universal o sábio provérbio popular:
Pela boca morre o peixe.
Veremos.
Pê.

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