Monday, January 17, 2005

Comptas..

Há coisas – como Portugueses - em que somos definitivamente especialistas..
Uma das mais paradigmáticas em que somos os “melhores do mundo”, é a transformação daquilo que promove a simplificação em trapalhada, como um véu que desce cobrindo as incompetências e incongruências humanas.

Quantas vezes não se ouve, ao longo da última década, que a culpa de determinada coisa é do “sistema informático”, tal e qual como se dissesse que terá sido a “vontade de Deus”, ou do “Diabo à’tentar ali atrás da porta” ou de outro qualquer malvado mafarrico, coitado, que leva com as culpas em cima de algo que nem na bíblia se concebia: a computação cruel e fria de dados ao serviço dos humanos.

O recente circo da colocação de professores, revela-o da forma mais desumana possível, numa interdisciplinaridade de trapalhada, mau profissionalismo, pura incompetência e cru desrespeito pela inteligência das pessoas.
Sinteticamente, se o Ministério da Educação não cumpriu os prazos previstos contratualmente para a entrega dos dados à empresa, esta deveria ter rescindido imediatamente com justa causa o contrato a que estava vinculada. Por isto mesmo, a responsabilidade pertence a uns, pela incompetência habitual da administração pública, e a outros, pelo manifesto mau profissionalismo e incapacidade de se protegerem a si próprios.

Se recuarmos um ano, observamos que o Ministério da Educação anunciou que publicaria às 00 horas de tal dia os resultados da colocação dos professores de então. O sistema falhou, encravou, e o responsável disse então em várias entrevistas, exultante e vibrante, que se tinha tido “hits” na ordem das centenas de milhar por hora, portanto, “era natural que o sistema informático não funcionasse como normalmente”. Ora, ou somos todos muito parvos, ou a empresa que desenvolveu o sistema não fez o pai nosso de qualquer produto antes de ser lançado: “Unit test cases”, “System Tests” e “Global System Tests” antecipando as condições críticas esperadas em tal situação. A culpa? Mais um vez é do “Sistema Informático” e não de quem o fez, ou de quem contratou quem o fez.

Recuemos ainda mais um par de anos, e relembremos os atrasos nos reembolsos do IRS e de pagamentos da Segurança Social. Depois de milhões de euros gastos durante mais de uma década na informatização dos serviços do estado, a responsabilidade, então, diluiu-se mais uma vez devido ao “Sistema Informático”.

Avancemos até ao passado recente.
Observamos Sócrates reunido com alguns “chefões” hi-tech num claro sinal de querer relançar a aposta nas “Novas Tecnologias”, com os calafrios óbvios quando o vimos muito proximamente do CEO da Pararede (Para quê.....???).

A aposta que se avizinha, não é inovação é mais do mesmo: Implementações de Sistemas decididos em jantaradas por pessoas sem qualificação para tal. Já que Sócrates é tão opinativo, dirá ele se prefere Linux ao Mac OS X, ou o OpenOffice ao Microsoft Office? Seria mais uma trapalhada em que provavelmente diria que gosta do MS-DOS do Mac, e em que talvez parafraseasse algum autor no seu livrinho de bolso de citações.
Especulações à parte, o facto é que o PS absteve-se na votação do Projecto de Lei 126/IX/1 (o link é um excelente exemplo de um rápido e bom sistema informático "à la Estado", como se tem feito: é lentinho, mas com persistência a página aparecer-lhe-à..!).
E ainda não se ouviu Sócrates quanto ao que pretende fazer com o software livre.
Ainda não se sabe se o PS pretende aproveitar a poupança de vários milhões de euros - tão necessários - com a implementação do uso do OpenOffice, por exemplo, em detrimento das pesadíssimas licenças pagas a companhias como a Microsoft, Pararede (Para quê..???) e afins.

São este tipo de Comptas Obscuras que me assustam.
Pê.

Para saber mais, se tiver pachorra e interesse:

http://www.ansol.org/
http://www.openoffice.org/
http://sourceforge.net/
http://freshmeat.org/
http://slashdot.org/

e muitos outros.

Screen do OpenOffice

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Estás a entrar em campos que só interessam aos geeks. Além disso, não te vejo a apresentar provas absolutamente nenhumas em relação às tuas acusações quanto à compta, ou seja, não passam de especulações que acabam n'alguma retórica qualquer, que não interessa a ninguem.

04:41  
Blogger joao.filipe said...

Ora viva, Anonymous.

Antes de mais, deixe-me agradecer-lhe as linhas que dispensou. Os comentários são aqui raros, e o trabalho a que se deu para o escrever é só por si manifesto do eventual interesse que a matéria possa suscitar.

Aproveito o presente só para realçar três aspectos.

O primeiro, que se refere ao interesse que possa ou não ter este "campo" em que entro neste artigo, só complemento o que acima lhe escrevo, com o facto de ser uma medida que pode poupar vários milhões de euros aos contribuintes portugueses.

O segundo aspecto refere-se ao facto de só passar pelo "caso Compta" com base nas informações recentemente vindas a público. Não efectuo acusações à Compta nem aos profissionais que a integram, apenas a uma opção estratégica: Se o Ministério de Educação faltou a algo contratualmente previsto (entrega de dados em Agosto em vez de em Abril), a empresa deveria ter-se protegido a si própria accionando os mecanismos previstos por incumprimento de uma das partes.
Posso estar a especular, de facto, no caso de ter havido marosca e o contrato não ter incluído algo que qualquer contrato tem: clausulas de rescisão.
Reafirmo: só passei concretamente pelo "Caso Compta" num único parágrafo e o título é meramente uma figura de estilo.

Por fim, sobre isto haveria muito mais que poderia dizer, mas eu não sou jornalista, não quero/posso nem acho que seja relevante revelar as minhas fontes que sustentariam o que mais poderia dizer, e Anonymous sugere que: ou está definitivamente mal informado quer sobre o caso em concreto, sobre como se revelam inacreditáveis estas "falhas informáticas" e sobre as metodologias com que se abordam estes processos ou então sentiu uma vontade imperiosa de defender algo ou alguém directa ou indirectamente envolvido no processo.
O que é respeitável, mas não confere supremacia de legitimidade sobre que assuntos devem ser abordados e como o devem ser feitos.

Isto do tratar-se por "tu" tem muito que se lhe diga, e mexe com as paixões, não concorda comigo caro Anonymous?

Permita-me ainda, Anonymous, um modesto lembrete de um slashdotter que se preocupa com o rumo da ciência, técnica e tecnologia: As máquinas e os sistemas não têm a culpa, os responsáveis são sempre os intervenientes humanos.
Lembre-se disso de cada vez que ficar apeado/a por um terminal de pagamento multibanco, que apanhar um virus ou worm, que um trabalho seu ou de outrem for á vida por um crash de azelhice ou imaginar onde andam a ser gastos milhões em informatizações que acabam por ser só desculpas para os erros de sempre: humanos.
São coisas que cada vez nos dizem mais a todos e cada vez mais intensamente.

Os campos são muitos, e à escolha. Espero que o seguinte seja mais do seu agrado.
Muito obrigado, Anonymous, pela sua intervenção enriquecedora.

11:23  

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